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POVOAMENTO DO DELTA PARNAÍBA E SEUS PRINCIPAIS POVOADORES
Informa-nos o prodigioso Jerônimo de Viveiros, "o que povoamento do Maranhão teve início no século XVII, durante o que se desenvolveu tão morosamente que não atingia a 1.400 moradores em 1.720"...
Com base neste informativo, e, comparando a da data em que o padre João Tavares, da Companhia de Jesus, 1.722, passou a conviver com os Teremembés, aldeando-os de forma exemplar, devemos levar em conta que esse período, mais ou menos, foi o marco inicial, o ponto de partida para o povoamento da região déltica do Parnaíba, através dos demais focos de povoações que por ali se sucederam.
É de lembra-se que o morubixaba Manoel Miguel adquiriu, junto a D. João V, em 1.924, a primeira gleba de terras, a que chamou de "Mayrm", sita na orla déltica, onde instalou aldeia, mas tarde transformou em Missão pelo padre João Tavares. Adquiriram, também, outra, em 1.727, denominando ilha dos Cajueiros, onde, com a orientação dos jesuítas, promoveram a criação do gado bovino e equino, instalando currais, cultivando pastagens e plantando cajueiros, além de cultivarem, sobretudo, a mandioca, com a qual fabricavam a farinha para seu sustento.
Devemos ter em mente, ainda, que os Taramembese (Tremembés) e os Arajós (Araiós) eram descendentes dos Tapuias que habitavam antes da intromissão dos europeus no seu "habitat".
E, assim, sequenciando nosso entendimento, após a presença do padre João Tavares na região, surgiu o desbravador João Gomes do Rego Barra, que foi, segundo R. do Amaral, - descobridor e primeiro povoador de uma ilha deserta de vassalos de Sua Majestade e só habitada de Tapuias, a qual achava-se situada entre as barras dos rios Iguarassu e a chamada vulgarmente de barra do Parnaíba, cuja ilha, atual Ilha Grande, fora adquirida por aquele colono, em 1.725, mediante certa data e sesmaria lavrada a 14 de julho desse ano.
Adquirindo-a, legalmente, João Gomes para lá se transferiu com a família e pertences, a fim de lavrá-la e nela criar gado, onde, evidentemente, lançou a semente genealógica de várias gerações futuras. Aliás, na relação dos "Criadores de gado vacum a ecavalar", da ilha de Tutóia, indicada no Almanaque da Província do Maranhão, de 1.866, deparamos com vários cidadãos com o sobrenome "Gomes", que certamente devem Ter sido descendentes, sem Segunda ou terceira linha hereditária, de João Gomes do Rego Barra. Vemos, por exemplo, o Capitão Inácio Gomes de Almeida e Joaquim Veras Gomes, ambos com fazenda em Lago e Vila de Tutóia; também D. Maria Vitória de Almeida Gomes, com fazenda em Lago e Coronha; Francisco Gomes Leal e Alexandre Ferreira Gomes, agricultores na região do Magu e Frexeiras, respectivamente, encontrando-se estes dois últimos, na relação de "Lavradores de mandioca e mais gêneros" da Freguesia de Nossa Senhora da Conceirção de Araioses.
Além de João Gomes, destacamos também "Joseh Pereira", que adquiriu uma carta de data e sesmaria sobre a ilha de "Nossa Senhora da Conceição", lavrada em 19 de maio de 1.728, pelo então governador João da Maya da Gama, em São Luís do Maranhão. Acreditamos que, dessa família "Pereira", boa parte dos demais Pereiras que apareceram na região deve ser descendente daquele tronco genealógico, a citar: Antonio José Pereira e José Vitorino Leal Pereira, ambos criadores de gado "vacum e cavalar", na fazenda Lago, em Tutóia, e contido na relação anteriormente mencionada, de 1.866; ou então, o Tenente Antonio Pereira de Atayde, com fazenda em Vila Coronha (Araioses); Lourenço Justiniano Pereira e Antonio Alves Pereira, ambos com fazenda em São Paulo (Araioses); Alexandre Pereira da Cruz e Paula Pereira da Silva, em Mariquita (Araioses).
Ainda no ano de 1.723, na mesma data e local e pela mesma autoridade que concedeu terras a José Pereira, João Lopes da Cruz foi beneficiado com a posse e domínio da ilha denominada "Batatais". Não sabemos se é o mesmo João Lopes referendado por Marques e Ribeiro do Amaral, como um dos integrantes da irmandade "Lopes" que tanto litigou com os jesuítas e os índios. Embora suspeitamos que seja o mesmo cidadão, por não ser comum, àquela época, famílias com o mesmo sobrenome e sem terem parentesco.
A propósito, quando, em 1.731, foi proferida aquela sentença de despejo contra os irmãos Lopes e outros, com ganho de causa para a Companhia, a referida decisão judiciária não atingiu mais diretamente a todos os primeiros envolvidos, por exemplo, o condenado da ação, Manoel de Rocha Lima já havia falecido e, em seu lugar, o despejo atingiu a viúva D. Feliciana da Silva e os herdeiros do "de cujus", bem como a um novo integrante da contenda: Gaspar dos Reis Bitancor, além de outros Lopes.
Todavia, o que nos interessa disto tudo, era a audácia e o destemor desses colonos, que os missionários os designava de "invasores", porque, senão inéditos tais procedimentos, os foram de raríssimas rebeldias; ainda mais, por sucessivas vezes, diante das ordens régias, deixarem bem patente que, dentre todos os demais colonos, os Lopes, os Rocha, os Silva e os Bitancor, foram os mais bravos e denonados; ainda mais considerando que, segundo alguns informes, foram eles os primeiros colonos e introduziram o gado bovino e equino na ilha dos cajueiros; embora se sabendo o que os jesuítas já haviam introduzidos esse tipo de gado na gleba "Mairim", já no continente. Mas suas raízes brotaram profundamente, de forma a deixar uma prole vicejante e duradoura, através das gerações que lhes sucederam. E, na relação dos "senhores de engenho de açúcar e aguardente", anteriormente referendada, existente em 1,866, na vila de Tutóia e freguesia de Araioses, encontramos alguns senhores, entre os mais importantes da região, que certamente descenderam desse célebre tronco de colonos, a sabermos:
Enfim, vários outros descendentes daquelas primeiras sementes povoadoras.
Os Bittencourt que surgiram posteriormente, como vimos, procedem evidentemente da família Gaspar dos Reis Bitancor; enquanto que, de similar forma, os Reis que apareceram a partir daí são oriundos desta mesma árvore, como por exemplo, Raimundo Belisário dos Reis, que, em 1.866, foi vereador da Vila de Tutóia, ou José Antonio dos Reis, que foi suplente de Delegado de Polícia, na mesma época, na cidade vila.
Prosseguindo na apresentação dos beneficiários de datas de terras em tais arrebaldes, ainda em 1.728, registramos o nome de João Batista Pinho, que, a 30 de junho desse ano, adquiriu uma carta de data e sesmaria em uma ilha na barra do Canindé, cujo nome é omisso no documento que o Prof. Ribeiro do Amaral alude em sua obra.
A 8 de junho deste mesmo ano, Francisco da Costa também saiu favorecido com uma carta de data e sesmaria, deferida pelo governador Alexandre de Souza Freire, referente a Ilha do Caju, onde os índios Taramembeses já possuiam também uma data de terra de légua e meia; e, no mesmo ano, uma outra carta concedeu a Luis Carlos Pereira de Abreu a posse sobre a ilha das Canárias, que se localiza à esquerda de outrora chamada barra da Parnaíba. De Similar maneira, a 18 de outubro de 1.748, uma data de terra foi passada em favor de Laureano Rebello da Silva, constituída de uma ilha denominada Santa Cruz e de uma penísula cahamda "Egos".
A 27 de agosto de 1.758, foi a fazenda do Lago arrematada por Bento Correa da Costa, enquanto a Fazenda de Canidé, ambas que pertenceram os jesuítas, foi arrematada por Manuel Portugal.
Dezesseis anos após, ou seja, a 15 de maio de 1.774, foi a vez de Manoel José da Conceição receber, pela mesma sistemática de carta de data, as ilhas de Coroatá, de Igoronhon e Carraparo, sitas na barra do rio Buritizinho.
Já no início do séc. XIX, outras levas de emigrantes convergiram para ali, procedentes sobretudo do Ceará, Bahia e Pernambuco. Este últimos, geralmente eram constituídos de militares, enquanto os baianos eram criadores e os cearenses, exilados das secas. De maneira que, para garantir o sucesso dos projetos de cada criador e agricultor, tiveram eles de criar fazendas de gado vacum e cavalar, instalar engenhos de açúcar e aguardente, implantar lavouras de mandioca e outros gêneros e estabelecer postos de intercâmbio comercial, em locais apropriados, de preferência nas regiões ribeirinhas ou litorâneas, cujos locais representaram o embrião de futuras povoações.
Enfim, para melhor rebustecermos esses dados, enfoques, opiniões e, precipuamente, a verdade sobre este tema, aqui expomos as prefaladas relações de senhores de engenho e criadores de gado, inseridas na APM de 1.866.
"Relação dos senhores de engenhos de açúcar e aguardente", da vila de Nossa Senhora da Conceição de Tutóia:
Criadores de gado "vacum, cavalar, etc":
Senhores de engenhocas de aguardente da freguesia de Nossa Senhora de Araioses, na época, 1.866, 2º Distrito da Tutóia (Povoação do Enjeito):
Lavradores de mandioca e mais gêneros:
Criadores de gado equino e bovino:
Como acabamos de ver, esses cidadãos foram os principais responsáveis pelo povoamento da região. Em Tutóia, destacaram-se bastante a atuação das famílias "Neves", "Veras", "Ramos", "Almeida", "Rodrigues", "Galas" entre outras, de cujos troncos ainda se encontram remanescentes no contexto sócio político do Município.
Todas essas estirpes, ao longo das gerações que se sucederam, acabaram por mesclar-se com outros grupos étnicos; mas, em cujas miscigenações predominou o elemento branco, uma vez que o negro, para a região, principalmente, para a de Araioses, convergiram poucos negros, em virtude da inexistência de senzalas e engenhos de cana-de-açúcar, conforme vimos no APM, de 1.866. Quanto aos índios, cada vez mais raros, ao longo dos tempos e movidos por uma série de fatores negativos, como já tivemos oportunidade de verificar acabaram por perder suas características biológicas e culturais mais distintas.
Fonte: http://www.sergioramos.com.br/tutoia/historia/historia-05.htm