|
1. | A Ciência dos Nomes Próprios. |
2. | Distinção entre o Nome Próprio e o Nome Comum. |
3. | Como podem ser estudados os antropônimos. |
4. | A Antroponimia sob o Aspecto Lingüístico. |
5. | A Antroponímia sob o Aspecto Social e Psicológico. |
6. | Motivos de Criação dos Antropônimos. Motivo Religioso. |
7. | Os Antropônimos e o Totemismo. |
8. | Onomatomancia. |
9. | Antropônimos Criados pelas Circunstâncias do Nascimento. |
10. | Circunstâncias do Tempo do Nascimento. |
11. | Circunstâncias do Lugar do Nascimento ou Proveniência |
12. | Nomes Alusivos a Qualidades Morais. |
13. | Nomes Alusivos a Qualidades ou Particularidades Físicas. |
14. | Nomes Alusivos à Cor da Tez, dos Olhos ou dos Cabelos. |
15. | Nomes de Qualidade Morais e Físicas em Metáforas. |
16. | Nomes Alusivos à Cronologia dos Nascidos. |
17. | Nomes Alusivos a Profissões. |
18. | Nomes Históricos ou Provenientes de Instituições. |
19. | Razões da Escolha dos Antropônimos. Motivos Religiosos. |
20. | Motivos Políticos. |
21. | Motivos de Família ou Amizade. |
22. | Motivos Diversos. |
23. | Origem do Nome e do Sobrenome em Geral. |
24. | Antropônimos de Indígenas Brasileiros. |
25. | Particularidades dos Nomes entre Vários Povos. |
26. | Particularidades do Português. |
1. A Ciência dos Nomes Próprios.
O estudo dos nomes próprios classificam-no primordialmente em
nomes de pessoas, a que se dá o título de Antroponímia
(expressão que pela primeira vez foi empregada em 1887 por J. L.
de Vasconcelos na Revista Lusitana, 1, 45), e em nomes de lugares ou geográficos,
que se denomina Toponímia (nomes de nações, províncias,
cidades, sítios, montes, vales, rios, etc). Ambas as secções
formam a Onomástica ou Onomatologia ciência dos nomes próprios,
a que J. L. de Vasconcelos acrescenta uma terceira parte Panteonímia
isto é, estudo dos nomes próprios das entidades sobrenaturais,
de astros, ventos, animais, de coisas (espada, navios, sinos, etc). Especificamente:
Teonímia estudo dos nomes de deuses e seres sobrenaturais; de
Zoonímia dos nomes de animais; de Astronímia dos nomes
de astros e símiles. Mais recentemente, introduziu-se a secção
Onionímia estudo dos nomes de produtos comerciais (R. F. Mansur
Guérios, Onionímia ou Onomástica Industrial em Estudos
em Homenagem a Cândido Jucá Filho, Organização
Simões, Rio [1970]).
2. Distinção entre o Nome Próprio e o Nome Comum.
A distinção entre o nome próprio (de pessoas,
etc.) e o nome comum é, aos olhos do lingüista, artificial,
porque, na sua origem, remota ou não, os antropônimos, etc,
eram nomes comuns. A única distinção real e concreta
é a seguinte: Todos os vocábulos ou signos possuem "alma",
i. é, sentido ou significado, e "corpo" ou significante, que é,
na linguagem falada, o som, e na linguagem gráfica a escrita. Ora,
os nomes próprios não lembram hoje, no intercâmbio
lingüístico, os sentidos que despertavam outrora na sua origem,
nem lembram outros, donde se conclui que são vocábulos desprovidos
de "alma", ou melhor, ficaram "petrificados"; apenas conservam o "corpo"
ou significante. O nome Licurgo não lembra mais o "caçador
de lobos" primitivo; nem Hipólito "que tira ou solta os cavalos".
E não existe entre Lobo e lobo senão o liame de "corpos";
da mesma forma entre Camillus e camillus, "o que serve os sacerdotes nos
sacrifícios".
Ao passo que os substantivos comuns poderão ter ou não,
presentemente, as mesmas significações originárias,
mas em ambos os casos possuem "alma". E quando não as tenham originárias,
é porque houve "desvio" ou evolução. Contudo, isso
não é absoluto, pois, p. ex., uma localidade que se chame
Bahia, por excelência, pode traduzir de fato e atualmente uma baía.
O semanticista Michel Bréal diz que a diferença entre
os substantivos próprios e os comuns é apenas diferença
de grau; aqueles "sont, pour ainsi dire, des signes à la seconde
puissance", e que essa diferença é toda intelectual, não
gramatical (Essai de Sémantique, 6a ed., pp. 182-183).
3. Como podem ser estudados os antropônimos.
Os antropônimos podem ser estudados sob dois aspectos principais:
1 °) Sob o aspecto lingüístico, da sua origem ou criação
(etimologia); e 2o) sob o aspecto social ou psicossocial, o da sua escolha
ou das razões por que são ou foram sempre empregados (cresiologia).
Esclareçamos. Tomemos, p. ex., o nome Joffre. Este antropònimo
francês é de remota procedência germânica, variante
de Geofroi, o mesmo que Godefroy (port. Godofredo, al. atual Gottfried).
Anatomizando-o, veremos que há dois elementos: fried ("em paz ou
protegido") e Gott ("por Deus"), e então aí devemos indagar
a causa ou as causas por que tal nome foi dado pela primeira vez. E o primeiro
aspecto, que, a falar verdade, não é exclusivamente etimológico.
Pelo segundo, trata-se de saber por que Joffre é mais ou menos
usual, freqüente. Se, de certo tempo a esta parte, vemo-lo comum,
mesmo fora da França, é porque há boas razões,
e aí elas são, digamos assim, políticas. De fato,
pela saliência do valoroso cabo-de-guerra francês gen. José
Jacques Cesário Joffre durante a conflagração mundial
de 1914-1918, o nome ganhou numerosas simpatias, principalmente entre os
Aliados.
4. A Antroponimia sob o Aspecto Lingüístico.
O estudo dos antropônimos possui valor lingüístico
importante. Vejamo-lo:
1o) Há duas correntes que se caracterizam por dois extremismos
uma afirma que os nomes próprios em geral e os antropônimos
em particular sofrem alterações mais profundas, mais rápidas
que os nomes comuns; outra corrente se opõe os nomes próprios
sofrem modificações menos profundas e menos rápidas
que os comuns. Nem tanto seguir aquela, nem tanto esta. É preciso
fazer distinção, e é que os nomes próprios,
foneticamente, "participam um pouco menos das transformações
fonéticas" (Bréal) que os nomes comuns. Morfologicamente,
sim, há maiores alterações, em geral pelo princípio
do menor esforço, que os abrevia, e pela freqüência dos
hipocorísticos e diminutivos que de ordinário os alongam.
2°) Os antropônimos oferecem particular interesse, porque
são os fósseis da língua que vivem singularmente apenas
do exterior, do corpo. E eles, com o auxílio dos topônimos,
é possível a reconstituição de numerosos elementos
de uma língua, em grande parte ignorada, se bem que, no conjunto,
os antropônimos são muito menos arcaicos que os nomes de lugares.
"L'aspect du sol, les montagnes, les rivières, les rivages restent
fixes à travers deux ou trois millénaires d'histoire; la ville, le village même dure des siècles. Au
contraire, les
générations se succèdent, rapides, favorisant les
changements et les disparitions de noms, surtout au cours des périodes
troublées. Les noms de famille n'ont été fixés qu'aux époques de forte organisation politique et
sociale. Enfin
les variations de la mode, si puissantes pour les noms de personnes, n'ont
guère de prise sur les noms de lieux". (A. Dauzat).
3o) Assim como nomes comuns passaram para a classe dos próprios,
por certa especialização do sentido (augustus > Augustus,
crispus > Crispus, pinto > Pinto), também muitos nomes próprios
retornam à primitiva condição de comuns, por generalização
de um sentido posterior, especializado, completamente independente do sentido
primitivo, originário (Luís XIII, rei de França >
luís, "moeda de ouro"); Dahl, botânico sueco > dália,
"flor"; Dulcinea, enamorada de D. Quixote > dulcinea, "namorada", e isto
são fenômenos gerais da linguagem que merecem especial atenção.
4o) E há outros fatos notáveis quais os, p. ex., de haver
patronímicos que foram a causa do desaparecimento de nomes comuns
correspondentes. Fato curioso que, no francês, pela vez primeira
foi exposto à luz pelo grande geolingüista J. Gilliéron.
Assim, Lefèvre ("o ferreiro") causou a desaparição
do substantivo comum fèvre ("ferreiro"), porque um indivíduo
desse nome era de fato ferreiro, e, como é vulgar distinguir um
Lefèvre de uma profissão com o homônimo de outra, evitou-se
a redundância Lefèvre le fèvre, assim como também
se fugiu da antinomia Lefèvre le boucher, ou símile. Sanou-se
o inconveniente com ter-se criado nova palavra forgeron derivado do
verbo forger.
5o) Se bem que as Instruções para a organização
do sistema ortográfico oficial brasileiro advirtam que os nomes
próprios, portugueses ou aportuguesados, estejam sujeitos às
mesmas regras estabelecidas para os nomes comuns, concedem a quem quiser,
a fim de salvaguardar direitos individuais, a manutenção
de sua assinatura na forma consuetudinária.
Em vista disso, a grafia do nome ou do sobrenome se conserva, se arcaiza
através dos séculos, pois assim o portador o recebeu e assim
o transmite aos descendentes, embora não raro a grafia não
se justifique etimologicamente. São exemplos: Abrahão, Assumpção,
Affonso, Archimedes, Anna, Apparecida, Arraes, Athayde, Benedicto, Braz,
Britto, Christiano, Catharina, Cypriano, Dinorah, Edith, Eloah, Glyce,
Ignácio, Jayme, Melchíades, Mello, Moraes, Mattos, Novaes,
Philemon, Rodolpho, Sarah, Sebrão, Souza, Theodoro, Villela, etc.
Fato semelhante verifica-se em todas as línguas dotadas de escrita.
5. A Antroponímia sob o Aspecto Social e Psicológico.
Mais importante que o anterior, é o aspecto psicológico
e social dos antropônimos, os quais refletem as civilizações
passadas com todas as suas instituições.
Os nomes são criados sob o influxo religioso, político,
histórico, etc, de circunstâncias variadíssimas, e
em que transparece viva a alma popular de todos os tempos e de todos os
lugares. Vejamos por parte esses diversos aspectos.
6. Motivos de Criação dos Antropônimos. Motivo
Religioso.
A criança tem sido encarada pelos pais como presente de Deus,
ou dos deuses entre os povos politeístas. Entre os hebreus : Mateus,
Matias, Jonatã querem dizer "presente do Senhor, de Javé".
Entre os gregos: Teodoro, Diodoro, Doroteu, Teodósio: "presente
de Deus". Heródoto: "presente da deusa Hera". Isidoro: "dádiva
da deusa Ísis". Entre os latinos: Deusdedit: "Deus deu", Adeodato,
Deodato, Dondeo: "dado por Deus". Entre os hindus: Devadatta: "dádiva
de Deus" (aplicado à criança desconhecida ou abandonada).
Entre os germanos: Godolef. "filho de Deus", Godgifu, Godegeba: "presente
de Deus". Entre os fenícios: Haníbal: "dádiva do deus Baal".
A criança é posta sob a proteção de Deus,
ou é declarada amiga, serva ou pertença dele. Exemplos hebraicos:
Abdiel: "meu servo é Deus", Tobias: "o meu bem é Javé",
Elias: "meu Deus é Javé" Gregos: Teófilo: "amigo de
Deus", Teódulo: "servo de Deus", Cristóforo: "o que traz
(ou leva) Cristo". Exemplos latinos: Demétrio: "pertencente à
deusa Deméter", Carmelo e Carmen: "da divindade (adorada) no monte
Carmelo". Germânicos: Gottschalk: "servo de Deus", Irmengarda: "bastão
do deus Irmin", Durval {Thorwald): "o que governa Thor", i. é, "o
sacerdote de Thor", o deus dos trovões. Exemplos arábicos:
Abd Allah: "servo de Deus", Abd Er Râhman: "servo do Misericordioso".
No Sudão: Oklu, "o escravo", nome pròprio de criança
consagrada à divindade. Tais nomes são denominados teofóricos.
7. Os Antropônimos e o Totemismo.
Entre os povos chamados primitivos, o nome é inseparável
da coisa e do indivíduo assim designado; faz corpo com ele. Daí
o sumo cuidado e respeito que lhe dispensam, atribuindo-lhe valor mágico.
E, para preservação de malefícios possíveis,
surpresas desagradáveis, senão funestas, os selvagens ocultam
os seus nomes aos estranhos, e quando não o fazem, é porque
declaram um "pseudônimo". Dediquei ao assunto um capítulo
da obra Tabus Lingüísticos, 2a ed., Cia. Ed. Nacional, S. Paulo
1979.
E entre os mesmos são comuns, p. ex., os nomes de animais que
os indivíduos trazem, e não menos comuns os mesmos entre
os civilizados, que, segundo R. Kleinpaul, são vestígios
dessas concepções "Wie nahe haben wir das Totem !" (Quão
próximo de nós temos o totem!).
Explica-se pelo totemismo que os membros de uma tribo usam o nome de
certo animal de que se julgam descendentes. Entre os naturais da Austrália,
p. ex., cada pessoa usa o nome dum animal sagrado e a quem considera como
irmão ou irmã. Não o matam, nem consentem outros a
que o façam. Entre os omahas (América do Norte), tais eram
os antropônimos dos moços do clã do veado: "Corno mole,
amarelo, arbóreo", etc. Entre as moças: "Corça caudata",
etc.
Pode acontecer que presentemente não se verifique esse temor
ou veneração, como, p. ex., entre os bororos (Mato Grosso):
"Os nomes próprios ou pessoais derivam de animais ou vegetais ou
de algum antigo herói deles", mas "não atribuem qualquer
culto ou veneração, nem consideração alguma".
P. ex.: um indivíduo a quem fosse dado o nome de Piodudo (beija-flor
ou colibri) não professará por isso atenção
especial a esse passarinho, nem terão, por isso, qualquer imunidade
os beija-flores. O mesmo sucede em relação a outros animais
ou vegetais (Herbert Baldus, Ensaio de Etnologia Brasileira, 1937, p. 128).
Todavia, observação diversa, concludente, muitas vezes é
dificílima, uma vez que a tudo o que se refere às suas crenças,
o nativo é muitíssimo reservado.
Probantes vestígios do totemismo, diz R. Kleinpaul, existem
entre os semitas, os árias (gregos, romanos, germanos, etc.), etc.: Kaleb,
Catulus, Lupus, Arthur, Orsini, Beowulf, Bernhard, Wúlfilas,
Wolfgang, Psittakós, Chelidôn, CheIône, Alópekos,
Kyknos, Lykos, etc. {Die Deutschen Personennamen, p. 47).
Em conclusão se anota o influxo do totemismo na criação
de antropônimos, porém curioso ainda é saber que há
autores (Spencer, Lubbock, etc.) que dão a antropônimos a
causa, a origem do totemismo. Os primitivos eram apelidados com nomes de
animais, de plantas, etc, em vista de qualidades observadas nos mesmos
que se comparam com as dos animais, das plantas, etc. Mais tarde, confundiram-se
esses animais, essas plantas, etc, com os seus antepassados do mesmo nome,
e vieram a adorá-los da mesma maneira que adoravam os ascendentes,
pois que, afirmavam, esses animais, esses vegetais, etc, os protegiam no
decorrer da existência. (J. G. Frazer, O Totemismo, trad. Lisboa,
1913, p. 96).
8. Onomatomancia.
Já vem de longe a superstição de que o nome exerce
ou poderá exercer influência na pessoa que o traz ou na sua
vida {onomatomancia ou onomancia). Os romanos, p. ex., afirma A. Dauzat,
denominavam o recém-nato Fortis, não porque o mesmo era ou
parecia robusto, mas para que o fosse.
Andam por aí ainda hoje espíritos crédulos que
anunciam, sob o título estrambótico de nomeosofia, a felicidade
ou a infelicidade na vida mediante contagem extravagante das letras na
assinatura do indivíduo.
Não menos ingênuo é o resultado que M. de Rochetal {Onomatologie ou le Caractère par le Prénom, Paris, 1908)
diz ter obtido após prolongadas observações. Todo
nome dado à criança por ocasião do nascimento, afirma
esse autor, impõe-Ihe, para a vida, um conjunto de qualidades e
defeitos que mais tarde fazem a sua personalidade.
Mas por quê?
Quem escolhe o nome da criança? Em geral, continua o autor,
é a mãe. Se ela deseja dar ao recém-nascido tal prenome
de preferência a tal outro, é porque pôde apreciar,
na pessoa portadora desse nome, qualidades que ela gostaria muito de ver
em seu filho, ou os predicados de tal personagem histórica, de tal
herói de romance, de tal ser criado e enriquecido de tantos encantos
e graças pela sua imaginação. Assim, o rebento é
de qualquer modo "aguçado" para tais qualidades, identificadas
ao prenome no espírito materno. Além disso, há em
cada nome, uma espécie de predestinação, diz o onomatomante,
um conjunto de qualidades, boas ou más, que se verifica desde a
origem, com os conjuntos que por primeiro trouxeram tais nomes e que se
acham de novo, diminuídos ou acentuados, porém sempre caracterizados
entre os sucessivos portadores deles.
É curioso, diz o francês, estabelecer semelhanças
de caracteres: a doce santa Elisabete (Isabel) parece, através da
história, ter transmitido sua doçura e melancolia às
mulheres que levam seu nome: Madame Elisabete, irmã de Luís
XVI, a doce e triste imperatriz Elisabete da Áustria, a grã-duquesa
Elisabete, a rainha Elisabete da Romênia (Carmen Sylva).
Os traços comuns aos Julios apareceram em França, no
curso do séc. XIX, entre os homens políticos: Jules Favre,
Jules Simon, Ferry, Grévy, Méline; entre os escritores como
Michelet, Janin, Sandeau.
9. Antropônimos Criados pelas Circunstâncias do Nascimento.
O parto dificultoso deu origem a diversos nomes. Exs. hebraicos: Benôni:
"filho da minha dor"; Jacó: "ele segura o calcanhar (de Esaú)",
pois assim aconteceu ao nascer. Latinos: Sérvio: "o salvo, o livre
(do parto atribulado)"; Agripa ou Agripino foi assim chamada a criança
que, no parto anormal, apresenta primeiro os pés; César ou
equivale a "o que tem cabelos compridos, o cabeludo", ou se relaciona com
o verbo caédere, "cortar", e aqui se compara a expressão
operação cesariana.
O nascimento de gêmeos também mereceu atenção,
como não poderia deixar de ser. Assim, na língua aramaica
Tomé: "gêmeos". Em forma helenizada é Tomás,
a qual se postou ao lado do genuíno grego Dídimo. São
correspondentes latinos: Gemellus, Géminus, Gemellinus; em port.:
Geminiano; em it. Gemelli, sobr. Em alemão suíço temos
o nome Zuínglio, que também significa "gêmeos".
10. Circunstâncias do Tempo do Nascimento.
Entre os romanos: Lucius, Lucia: "o que ou a que nasceu à luz
do dia ou ao romper d' alva". Corresponde-lhes, segundo alguns, o alemão
Dagobert. Em grego-latino: Hemerinus: "diurno". No lat. medieval: Dominicus,
port. Domingos é "o nascido num domingo". A isto corresponde o grego
Kyriakós, port. Ciríaco.
Natalia, Natalino, port., são nomes de pessoas nascidas no dia
do Natal, como Epifânio, do grego, é o do dia da epifania
do Senhor. Hosaná, ou Hosana, derivado do aramaico, e o francês
Ozanam são nomes que se referem ao domingo de Ramos.
Pascual, Pascualino, Pascásio são os nados na Páscoa.
Januário e o italiano Gennaro são os do mês de janeiro.
11. Circunstâncias do Lugar do Nascimento ou Proveniência
(Antropônimos Geográficos).
Herculano (Herculanus) é o da antiga cidade de Herculano, na
Campania. Madalena{Magdalená): "da cidade de Mágdala", na
Galiléia. Caetano (Caietanus) é "natural de Caieta ou Gaeta",
na Itália. Libânio: "o do Monte Líbano". Bismarck é
abreviado alemão de Bischofsmark, i. é, "o da fronteira do
bispo".
Em tempestuosa noite de verão de 1857, a bordo de um vapor da
linha Hamburgo-América, uma senhora, em alto-mar, deu à luz
uma menina, que foi batizada com o nome de Oceana. Muita novidade não
é, que tal já sucedeu em tempos mais antigos, como o provam
os nomes Marinas, Marina, latinos; Pelágon, grego; Pelagius, grego-latino.
Em galês, idioma de Gales: Morgan quer também dizer "o do
mar, o nascido ou habitante do mar".
Uma indígena brasileira, caxinauá, certamente por ter
nascido junto a um rio, foi prendada com o pitoresco nome de "Praia" (Maxikiaki).
Entre os germanos, Wittekind era o nome de quem nascesse no mato, e por
abreviação, Guido, Gui, Guy;é seu correspondente latino
Silvester, "silvestre".
A bordo de um avião da Vasp, a sobrevoar Maringá, PR,
nasceu um menino a quem foi dado o nome Miguel Vaspiano, em homenagem à
empresa ("O Estado do Paraná", Curitiba, 19-6-1957).
12. Nomes Alusivos a Qualidades Morais.
Os antropônimos alusivos a qualidades morais tiveram, primitivamente,
caráter de alcunha, ou, então isso desejavam os pais aos
seus pequenos. Vejamos alguns exemplos: Gregos: Eusébios: "pio,
religioso"; Agamémnôn: "muito circunspecto, o de muita reflexão";
Sebastianós: "augusto, magnífico"; Thrasy'boulos: "conselho,
desígnio audacioso". Latinos: Verissimus: "muito (amante) da verdade";
Tacitus: "taciturno, silencioso"; Vivianus: "vivo, vivaz"; Sedulius: "zeloso,
diligente, cuidadoso"; Constantinus: "constante, perseverante"; Tranquillus:
"tranqüilo, calmo, sossegado". Germânicos: Alcuíno: "amigo
do santuário"; Balduíno: "amigo ousado"; Frederico: "senhor
ou príncipe da paz". Hebraicos: Nadab: "nobre, generoso"; Sadoc:
"justo, direito, correto". Arábicos: Rachid: "justiceiro"; Afif:
"honesto, casto"; Nabih: "esperto, vivaz".
13. Nomes Alusivos a Qualidades ou Particularidades Físicas.
Entre os gregos: Plátôn: "o de testa, ou o de espáduas
largas"; Oidípous: "o de pés inchados". Entre os latinos:
Claudius: "coxo"; Plautus: "o de pés chatos"; Strabo: "vesgo, estrábico";
Maximus: "o de alta estatura"; Pedo: "o de pés grandes". Hebreus:
Esaú: "o cabeludo"; Coré: "calvície". Arábico:
Maluf: "engordado, gordo". Italianos: Boccaccio: o "de boca larga, bocarra";
Gambetta; "perninha"; Gambarotta: "perna fraturada".
14. Nomes Alusivos à Cor da Tez, dos Olhos ou dos Cabelos.
Latinos: Fulvius: "fulvo, o de cor ruça" ; Helva, Helvidius,
Helvius: "o de cor castanha ou parda"; Aurelius, Aurelianus: "da cor do
ouro"; Níger, Nigellus, Nigrinus: "negro, de cor preta"; Albinus:
"albino, alvo, branco". Um exemplo grego: Py'rrhos: "o de cabelos ruivos".
O germânico Bruno pode referir-se tanto ao de olhos castanhos, como
ao cabelo. Em port.: Branco, sobr., e Branca, Claro, a; ital.: Bianca;
sobr.: Bianchini, Bianchi, Negrini.
15. Nomes de Qualidade Morais e Físicas em Metáforas.
São comuníssimos os de origem teutònica: Astolfo:
"impetuoso, violento como o lobo"; Everardo: "forte como o javali"; Leopoldo
e Teobaldo: "audacioso como o povo"; Rogério: "lança de celebridade";
Ranulfo: "lobo do conselho".
Exemplares hebraicos: Otoniel: "leão de Deus"; Abisur. "meu
pai (é) muralha"; Aser: "tesouro"; Abel: "sopro, hálito".
Há-os de todas as procedências.
16. Nomes Alusivos à Cronologia dos Nascidos.
Gregos: Protogénes: "primogênito"; Prôtos: "primeiro
(nascido)"; Proteús, idem.
Latinos: Primus, Primitius: "o primeiro (nascido)"; em doc. latino-lusos:
Primogenitus; Secundus, Secundinus: "o segundo (filho ou nascido)"; Tertius,
Tertinus, Tertullus, Tertullianus; Quartus, Quartinus, Quartinius; Quintus,
Quintulus, Quintinus, Quintillus, Quintilianus; Sextus, Sextilius, Sextilianus;
Septimus,Septiminus, Septimius; Octavus, Octavius, Octavianus; Nonius,
Nonianus; Decius, Decimus, Decimianus.
No idioma osco: Pompeius: o "quinto (filho)"; num dialeto itálico:
Pontius, idem; Petronius: "o quarto (filho)".
Em tempos recentes, vemos reproduzido este modo simples de nomear:
Um italiano deu aos seus pequenos os nomes: Primo, Secondo,..., e depois
do Ottavo (oitavo) chamou ao seguinte Fermo (cessado), julgando haver concluído
a série, porém não foi assim, pois que teve de subir
a numeração a Dodicesimo (duodécimo) {Corriere della
Sera, 19-8-1912, "apud" A. Dauzat). Mais prático e simplicíssimo
foi o que fez um americano, de Chicago, denominando os seus quatro filhos:
One, Two, Three e Four ("Apud" Kleinpaul).
O quarto filho de um paranaense, do município de Guarapuava,
Paraná, recebeu o nome de Irondi que, no idioma guarani, significa
"quatro". Levado por qualquer motivo, um meu amigo, que isso me informou,
também desse município, foi batizado com tal nome Irondi
porém não foi lembrada a significação; não
é o quarto filho.
17. Nomes Alusivos a Profissões.
Gregos: Geórgios: "agricultor"; Lykourgos: "caçador de
lobos"; Hípparchos: "chefe dos cavalos"; Ptolemaîos: "guerreiro".
Latinos: Cicero: "ervilheiro, plantador de ervilhas"; Fabius: "plantador
de favas"; Remigius: "remador".
De outras origens: Feres, árabe: "cavaleiro", a que corresponde
os italianos Cavalcanti, Cavallieri; francês: Chevalier, espanhol:
Caballero; port.: Cavaleiro.
Taylor, inglês: "alfaiate", a que corresponde o alemão
Schneider. Cisneiros, de origem espanhola: "o que lida com cisnes", e cujo
correspondente al. é mais ou menos Gensenrico: "senhor dos gansos".
Scheffer, al.: "ovelheiro, pastor". Schopenhauer, al.: "fabricante de cântaros
para cervejeiro e para pedreiro". Sarto e Sartori, it.: "alfaiate". Holzmann,
al.: "negociante de madeiras, madeireiro, carpinteiro, marceneiro". Guerreiro;
Monteiro; "caçador dos monteiros; oficial da casa real que dirigia
as caçadas reais"; Piloto; etc.
18. Nomes Históricos ou Provenientes de Instituições.
Exemplares românicos: Romeu: "peregrino que ia a Roma receber
indulgências do papa"; Vilar, Vila, Vilela referem-se às vilas
medievais; Novais era o senhor de terra novalis: "a descansada um ano;
alqueive"; Percival, francês, lembra o cavaleiro medievo que "atravessa
vales à cata de aventuras"; Quadros, espanhol, indicava o senhor
de "certa porção de terra lavradia", e ao qual sobrenome
o inglês Hoover lhe equivale mais ou menos. Couto e Coutinho, sobr.
port., referem-se a terras privilegiadas, por autoridade dos reis de Portugal.
Germânicos: Busse, de um topônimo Burgizo "burgo defendido".
Reflexos do feudalismo são: Otto, Odo, Odá, "riquezas, propriedades",
e daí saiu o francês Odette. Odoacro: "protetor dos bens";
Alódia: "a da propriedade livre, hereditária", oposta a feudo.
Gilberto e Gisela querem dizer "refém". Rotschild: "broquel ou escudo
vermelho"; eram as armas desse famoso milionário (em Francforte-do-Meno).
19. Razões da Escolha dos Antropônimos.
Motivos Religiosos.
A Igreja Católica sempre tem recomendado e aprovado aos catecúmenos
a adoção de nomes dos santos, a fim de que estes venham a
ser seus protetores, e também para criar especial devoção
aos seus portadores. Assim é que o calendário cristão
sempre tem sido consultado por muitas famílias cristãs, e,
quando não, justifica-se o nome pela particular devoção
dos pais, avós, tios ou padrinhos, ou por qualquer especial circunstância.
Os exemplos são numerosos, e ei-los em certa quantidade: Mercês,
fern, (por nascer a 24 de setembro, no dia de Na Sa das Mercês);
Rita de Cássia (22 de maio); etc.
Conforme a invocação de Nossa Senhora, temos os seguintes
nomes: Maria da Encarnação, M. Bernadette, M. da Graça,
M. dos Prazeres, M. das Dores, M. do Rosário {Rosário de
Maria, fern.), M. de Lourdes, M. da Luz, M. da Assunção,
M. da Conceição, M. do Carmo (em esp. Carmen), M. das Neves,
M. da Candelária; e ainda M. do Céu, M. da Fé, M.
de Terço, M. Custódia, M. Celeste, M. da Adoração,
etc. Na Espanha e repúblicas hispano-americanas são comuníssimos:
Amparo (María del), Angustias (M. de las), Asunción (M. de
la), Concepción (M. de la), Dolores (M. de los ), Encarnación
(M. de la), Luz (M. de la), Mercedes (M. de las), Nieves (M. de las), Patrocinio
(M. del), Pilar (M. del), Purificación (M. de la), Remedios (M.
de los), Rosario (M. del), Soledad (M. de la), Trinidad (M. de la), Visitación
(M. de la). Por isto é que são considerados femininos Amparo,
Dolores, Patrocinio, Rosario.
Hoje em dia é comum o nome Maria, mas seguido de outro, que
se explica ou por devoção ou por homenagem a uma pessoa da
família: M. Alice, M. Emilia, M. José, M. Josefina, M. Rosa,
etc.
A família Martin, de que procedeu a belíssima rosa do
Carmelo, santa Teresinha do Menino Jesus, possuía nove filhos, todos
batizados com o prenome de Maria, embora dois fossem do sexo masculino,
e então possuíam aposto Joseph: M. Louise, M. Pauline, M.
Léonie, M. Hélène, M. Joseph Louis, M. Joseph Jean
Baptiste, M. Céline, M. Mélanie Thérèse e M.
Françoise Thérèse, que, ao passar para o claustro,
recebeu o nome de Teresa do Menino Jesus e da Sagrada Face (nasceu 2-1-1873;
morreu 30-9-1897; beatificada a 29-4-1923; canonizada a 17-5-1925 por Pio
XI; festejada: 1o - 10).
Quando entram para a vida monástica, os religiosos em geral
costumavam trocar ou alterar o nome do século por outro, o qual
exprime devoção particular: Fr. Guilherme do Amor Divino,
fr. João da Anunciada, fr. Manuel de S. Nicolau, fr. Miguel da Ressurreição,
fr. José de Na Sa das Dores, fr. Francisco de Monte Alverne ("famoso
monte da Toscana, onde as chagas de Cristo foram impressas em mãos,
pés e lado de S. Francisco de Assis"), pe. Cândido das Cinco
Chagas, pe. Boaventura de Santa Maria, São Paulo da Cruz, S. Gabriel
da Virgem Dolorosa, etc.
Entre os capuchinhos é de praxe o acréscimo ao nome do
topônimo de seu nascimento: Frei Leopoldo de Castelnovo, Frei Matias
de Gênova, etc.
Sobrenomes que traduzem sentimento religioso, usados por leigos: Espírito-Santo,
Santas Almas, Sacra Família, Circuncisão, Casassanta, etc.
Curiosas combinações: Francisca de Salles, B. Francisca de
Assis, Maria da Luz Paraíso, etc.
20. Motivos Políticos.
Os entusiasmos políticos dos pais, mesmo os mais passageiros,
refletem-se nas denominações dos filhos nascidos na época
da novidade. Isto é de todos os tempos e de todos os países.
A título de curiosidade, registram-se aqui exemplos dos surgidos
durante e após a famigerada Revolução Francesa ("apud"
E. Lévy): Nomes masculinos: Egalité Eugène, Liberté
Edouard, Fraternité, Républicain, Isidore Egalité,
Liber, Liberté Chérie Gury, PleinD'Amour Pour La Patrie,
Droit de l'Homme Tricolor, François Fédéré,
Réunion et Fraternité, Simon Liberté ou la Mort, Amour
de la Patrie, Jean La République, Esprit Républicain, Amant
Fidel et Constant, Incorruptible Thermidor, Jean La Révolution,
Odet Robespierre, etc. Nomes femininos: Liberté Egalité Fraternité,
République Française, Amédée Victoire La Liberté,
Charlotte Unité, Méritée Liberté, L'Aurore
De La Liberté, Aimable Liberté, Liberté Désirée,
Amour Liberté, Maratine (deriv. de Marai), Fraçoise Victorie
Federative, Unitée Impérissable, La Liberté Française,
etc.
Vejamos agora curiosidades símiles de Portugal, citadas por
J. L. de Vasconcelos: Por ocasião da implantação da
república em Portugal, um exagerado entusiasta do novo regime, em
homenagem, cortou do sobrenome a palavra Reis. Pura ignorância! Reis
é sobr. de origem religiosa; refere-se aos Magos que adoraram o
Menino Jesus. Aurora da Liberdade (fem.), por alusão à República
Port. Aurora de Cinco de Outubro (fem.), também alusão à
República proclamada nesse dia, em 1910. Nova Pátria (fem.).
Outubrina, n. que um revolucionário do 5 de out. deu a uma filha;
usado também no Brasil por causa da revolução de 1930.
Esta, vitoriosa, deu lugar a Getúlio Libertador, Aliança
Liberal do Brasil, Getúlia, etc. E por causa da guerra européia,
temos muitos Joffre, Wilson, etc. Curiosas combinações: Wilson
Kaiser, Wilson J offer... Feminino interessante é Kaiserina. Na
França: Joffrette.
Tem havido, contudo, interdições governamentais (tabus)
no emprego de nomes que se consideram "sagrados" por um partido político.
Reza um telegrama: "Berlim, 12 O nome de Adolph Hitler e o de outras
altas personalidades partidárias e varões nazistas são
sagrados na Alemanha e protegidos por lei. Quando o nacional-socialismo
subiu ao poder em 1933, estabeleceu-se uma verdadeira mania, entre muitos
pais, de batizar os seus filhos com o nome do "Führer" ou de "Horst
Wessel", ou então de chamar às suas filhas de "Hitlerik".
As autoridades condenaram agora definitivamente esse hábito e proibiram
o uso destes e de outros nomes semelhantes" (A Notícia, Joinvile,
13-1-38). Igualmente eram nomes tabus: Mussolini e Hirohito.
Mas o inverso verifica-se entre os muçulmanos, pois entre eles
corre esta máxima: "Se tiverdes cem filhos, dai-lhes a todos o nome
de Maomé (Muhammad)!" Talvez isto contribua para explicar as muitas
variantes deste nome no português arcaico.
21. Motivos de Família ou Amizade.
É mui freqüente dar ao recém-nado o nome do pai
ou da mãe, do avô, da avó, do tio, do padrinho, de
um amigo, de um benfeitor, etc.
Quando isso não se dá, os pais forjam uma composição
de uma parte do nome do pai, ou outra pessoa, com uma parte do nome da
mãe, ou de outra pessoa: Claudionor (m.) = Cláudio e Leonor,
Silvanir (f.) = Sílvio e Nair; Erlice (f.) = Ernesto e Alice; Eral
(m.) = Ernesto e Alice; Fredericindo = Frederico e Gumercindo; Joedy =
José e Matilde (padrinhos), Lydiomar = Lydio e Maria, Jomar = José
ou João e Maria.
Uma Guiomar Camela é filha de Gaspar Camelo, uma Maria Pacheca
é filha de Vaz Pacheco (F. M. Sequeira, O gênero, na gramática
expositiva, p. 50).
A rima, às vezes, aparece propositada entre os nomes de filhos.
Dois sacerdotes, gêmeos, do Ceará são chamados Lauro
e Mauro. Quatro irmãos têm nomes terminados em y : Pery, Aracy,
Osny, Darcy. Outros exs.: Lísia e Elísia, Lília e
Lélia, Aimée e Edmée, Hariclê e Darclê...
Todavia, há nomes que parecem compostos, mas somente os portadores
é que poderão dizê-lo: Ivanaldo, Elimar, Liamir...
Uma pessoa é chamada Paulo em vista de a madrinha ser Paulina.
O inverso também se verifica: Paulina, porque é afilhada
de um Paulo. Pode acontecer também que uma menina se chame Josefina
por ser filha de um José, ou um Luís, cuja mãe é
Luisa. Exs.: Damasina (o pai: Dâmaso); Evandrolina (o pai: Evandro);
Haydo (m.), por causa da irmã Haydée; Odite é irmã
de uma Odete; Nilza é irmã de Ilza, assim como Nilda é
irmã de Hilda; Dory é filha de uma Dora; Nirma tem por irmã
Norma, etc.
"Um indivíduo chamado Carlos, diz J. L. de Vasconcelos, cujo
pai, avô, bisavô e trisavô, se chamavam já assim,
deu o mesmo nome a um filho, de modo que o nome manteve-se, pelo menos,
em seis gerações seguidas." Exemplos semelhantes só
nos oferecem as casas reais: Afonso XIII da Espanha, filho de Afonso XII;
Carlos VII da França, filho de Carlos VI, e este de Carlos V; Pedro
II do Brasil, filho de Pedro I.
Os príncipes em geral são batizados com numerosos nomes.
Exs. Da casa real da Itália: Vittorio Emanuele Alberto Carlo Teodoro
Umberto Amedeo Damiano Benedeto Genaro Maria. O nome completo de D. Pedro
II, do Brasil, era Dom Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo
Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel
Rafael Gonzaga. Longo, sem ser real, é o de um estudante da Faculdade
de Direito de S. Paulo (1858): Benedito Fósculo Jovino de Almeida
Aimberê Militão de Souza Barué Itaparica de Boré
Fu Mi Ni Tucunduva {Rev. da Fac. de Dir., S. Paulo, 1936, XXXII, fase.
II, p. 312).
Os papas servem-se, em geral, do nome de um dos seus antecessores,
a quem assim prestam homenagem: Pio XII, Pio XI, Benedito XV, Leão
XIII, João XXIII, Paulo VI. E em homenagem aos dois papas anteriores:
João Paulo I, João Paulo II.
22. Motivos Diversos.
Nesta rubrica incluímos todos os antropônimos provenientes
do arbítrio, acaso, superstição, fantasia, moda, gosto,
etc.
São numerosos os antropônimos esquisitos, extravagantes,
e muitas vezes produzidos por uma pretensa estética sônica
ou gráfica, em que predominam as letras y, w, h, k, e as terminações
-il, -ina, -ete, -on, etc.
Perlustrando pacientemente os quatro volumes da Genealogia Paranaense
de Francisco Negrão, saltam aos olhos, à medida que se aproximam
os tempos atuais, os nomes excêntricos, dos quais nem sempre é
possível descobrir a que sexo pertencem.
Por praticidade, misturamos aqui outros nomes modernos ou, melhor,
arbitrários, estranhos à Genealogia, apanhados em várias
fontes. Armâncio, Alquirino, Arvelino, Aderço, Anília,
Adhaias, Arnildo, Agledes, Ayr, Amanoir, Analfo, Adil, Aduá, Alzimiro,
Ardoal, Aracybilla, Alvacir, Arcelino, Acilda, Armor, Aresço, Athatília,
Aryval, Adyail, Arahilde, Aydia, Arazy, Anahil, Alô, Alciza, Ahires,
Aylito, Aylde, Altihis, Athir, Aziolé, Arielli, Arioluz, Acrelinda,
Amazília, Amil, Analtino, Alyr, Ayra, Arioly, Adalcyra, Arnahiá,
Alcidomira, Aderites, Aryldes, Alberquino, Ayska, Argene, Anebrair, Antíssima,
Belmair, Belavina, Cleuzanir, Claudinéia, Claudir, Clésio,
Claudemir, Clecy, Cidoca, Cemyra, Ciloca, Cilly, Cilsa, Clarahildes, Clemí,
Cylina, Cleys, Claudinei, Celanira, Celuta, Cleleon, Clovesmiro, Cenuci,
Carmolina, Cleidinir, Dilvete, Danici, Divonsir, Deocalina, Dacymar, Delohé,
Dalka, Devanir, Dalteu, Dilvo, Dorah, Dárcio, Deluvéria,
Dalmy, Dory, Delahir, Dilza, Diahyr, Dedy, Dylma, Darvi, Dil, Dahy, Dardinor,
Doatina, Derli, Derlindo, Denunciana, Daluz, Edivir, Edis, Ermy, Edevair,
Elvânio, Eniel, Esmy, Esmédia, Elodir, Euzínio, Ezoel,
Eraylde, Emelvira, Elidir, Ennyrena, Elcy, Erizitelan, Eslea, Ene, Enon,
Eny, Ellora, Erinésia, Erydan, Edella, Erivan, Edyr, Eloyr, Ermantina,
Elzimo, Enneh, Enoyna, Ediloy, Edurey, Eruty, Elide, Etuy, Eyalf, Elkis,
Enê, Ermantina, Esbellina, Edvay, Elmes, Elleny, Estulina, Ededno,
Eulíndio, Eudil, Enolym, Georfo, Gelvacy, Geandre, Glatino, Guinedim,
Gesuer, Gorvina, Gucélia, Gercidio, Gely, Glodine, Gerci, Germínia,
Glotília, Giolaz, Hancie, Herzondina, Hecilda, Hilayr, Henice, Helida,
Hiral, Hédio, Hyarne, Horizor, Hydos, Helenton, Hormesinda, Icarmádio,
Idevalde, Inirací, Itacyr, Ivonilson, Iteir, Imar, Ivanira, Isahir,
Izezeldo, Ilço, Igey, Idonisia, Itacilina, Ílio, Idilde,
Ilnah, Ilkis, Inê, Ilva, Izahil, Ivanda, Idamys, Ívio, Jocy,
Jocirema, Jaldeir, Jahi, Josueis, Jacydio, Joedy, Jubeia, Joacyra, Jesobina,
Josuam, Josima, Javina, Jersonita, Jony, Jovary, Jadir, Joair, Kildo, Kermite,
Kielse, Kílsio, Kerma, Luadir, Lindamir, Loedi, Lydiomar, Lucineide,
Leoclides, Leordino, Liva, Luzínio, Lucinéia, Loadir, Liziana,
Laurici, Leoveral, Limbelina, Libaldina, Luziano, Loé, Lairton,
Liorlanda, Leciem, Marioner, Marlisa, Myrka, Moracy, Milza, Megênia,
Mareja, Mireide, Mábio, Miracy, Mathisa, Mincia, Madecyr, Naité,
Níncia, Nathair, Nandy, Nelitan, Nilis, Noadyr, Nodivir, Nilma,
Nardazil, Naura, Neudo, Nilvana, Noltérvio, Neide, Nacir, Neusy,
Nildo, Normélia, Nilem, Nivon, Niwo, Neurissa, Osvaldir, Orenem,
Oeson, Oseles, Odélzia, Ozília, Ozima, Odélcio, Orandir,
Odeh, Odonira, Onícia, Odenah, Odélia, Ozélia, Odelando,
Ornila, Osli, Ozail, Oslyde, Ocarlina, Osmanir, Odassir, Odahyr, Odalisa,
Odilmeri, Oly, Robety, Rilton, Rosilto, Reny, Risoleta, Resivaldo, Rosimara,
Simalina, Sintique, Sisley, Sonny, Sirete, Siltahan, Sinneu, Tercizeno,
Thyrcélio, Tyrcília, Thayr, Thamires, Try, Telvi, Tasla,
Usyrsan, Urilo, Ulves, Urice, Uraci, Uricena, Urezina, Usley, Uzíbia,
Ureni, Vonil, Venina, Valdecir, Valdenilde, Vines, Varli, Valtir, Valdaci,
Vanir, Venita, Vanilda, Vaniza, Vardelice, Veronquel, Vilson, Wadilson,
Worley, Wislances, Walkis, Wandeir, Wantruil, Yaskara, Yvelise, Zelá,
Zilma, Zuley, Zayo, Zayla, Zidah, Zey, Zileide, Zilbo, Zílvia, Zelim,
etc.
Não é difícil reconhecer que muitos deles se formaram
mediante vário expediente, quer baseados em nome proprio mais conhecido,
quer em substantivo comum. Vejam exemplos: Arlina (Arlinda), Alzerino (Alzira),
Aurino (áureo), Analíria (Ana + lírio), Alvorina (alvor),
Artina (arte), Belmirinda (Belmiro), Brasilides (Brasil), Cylina (Celina),
Cecyta (Cecy), Dalcides (Alcides), Dalgizo (Adalgisa), Delcides (Alcides),
Emelvira (Elvira), Emilton (Hamilton), Elydia (Lydia), Elevy (Levy), Emireno
(Emir), Gelson (Gerson), Georgeto (Georgette), Horizontina (Horizonte),
Guayrina (top. Guayra), Irmi (Irma), Iguassuína (Iguaçu),
Jurandino (Jurandir), Jubílio (júbilo), Leonílio (Leonildo),
Lourena (Lorena), Lotilde (Clotilde), Londina (London), Mirando (Miranda),
Milta (Milton), Olírio (o lírio), Orvalina (orvalho), Olvídia
(olvido), Omylto (Hamilton), Ruthênio (Ruth), Rosil (Rosa), Romalina
(Roma), Realino (real), Riograndino (Rio Grande), Sinoval (Sinval), Saruína
(Sara), Stélio (Stella), Sirdenei (Sidney), Setembrino (setembro),
Vilsa (Wilson), Valtelina (Válter), etc.
Estes também não deixam de ser excêntricos: Andaluza,
Acácia, Sensitiva, Brasiliana, Boreal, Boneca, Bonança, Brasileiro,
Cisplatino, Dádiva, Danúbio, Divino, Egipciana, Egipcialinda,
Espirituosa, Edeluz (explicaram-nos: "espírito de luz"), Filha,
Geysha (= gueixa), Guayra, Hebrea, Ibérico, Ícaro, Japonesa,
Lindeza, Libra, Matutina, Meiga, Núbia, Novella, Nascida, Onda,
Opala, Pequena, Pennsylvânia, Propício, Rodo, Seleta, Sultana,
Sahara, Samaritana, Selvátivo, Selva, Taumaturgo, Universo, Verbo,
Vespertino, Vitoriana, Veneza Americana (alusão a Recife), Zelândia
...
Pode-se afirmar que a excentricidade dos antropônimos possui
graus. O máximo grau abrange os estapafúrdios, vários
humorísticos e outros de troça. É claro que eles chamaram
a atenção da imprensa, descobertos principalmente pelos recenseamentos
e pelas listas de eleitores (O Cruzeiro, Rio, nov. 1960,0 Globo, Rio, 7-12-60,
Gazeta do Povo, Curitiba, 18-10-70, O Estado do Paraná, Curitiba,
18-04-73, Jornal do Brasil, Rio, 21 -08-73, A República, Natal,
10-06-79, etc.): Antônio Dodói, Antero Americano do Brasil
Mineiro, Abrilina Décima Nona Caçapava Piratininga de Almeida,
Amada Sempre, Antônio 20 de Julho de 1895, Amarascoryia, Águas
Marinas Gomes, Alarme José, Ariquieta Dadinho, Antônio Morrendo
das Dores, Argentina América do Brasil, Abecê Nogueira, Anésio
Arcebs de Cantuária (de acordo com a folhinha do dia: Sto. Anésio,
Arcebs. (arcebispo) de (Cantuária), Barrigudinha Seleida, Cafiaspirina
Cruz, Celeste Batata, Catarina Goiânia de Goiás, Colapso Cardíaco
da Silva, Catarina Graciosa Rodello, Céu Azul do Céu Poente,
Cento e Três, Crepúsculo das Dores, Dezecâncio Teverêncio
de Oitenta e Cinco, Dulcelanauzaura Alves, Dinosauro, Dourado Peitudo,
Depozarino, Delícia Leal, Damores Santos, Defensor daParte, Eclâmpsia,
Eclesiaste Cardeal da Costa, Epílogo, Esparadrapo, Éter Sulfúrico
Amazonas Rios, Eustácio Ponta Fina Amolador de Ponta Grossa, Frígida,
Fachada, Fim Pedro, Francisco Cebola, Fordelícia, Frevorosa, Filosofina,
Gilete de Castro, Holofotina, Himeneu Casamentício das Dores Conjugais,
Ilegível Inelegível da Silva, Isabel Ignorada Campos, Isso,
Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, João Cólica,
Jardinino, Joaquim Sherlock Holmes, José Amando e Seus Trinta e
Nove, José Salamargo, João Rei Bispo de Deus, Jesus Rei das
Nações Diniz, João da Mesma Data, José Casou
de Calças Curtas, Liberdade Igualdade e Fraternidade Narbona, Libertina,
Lembrança de Aliás, Missa, Milagre Efigênio, Melancio,
Maternidade da Silva, Maria Espertina, Motim, Marmolina Terebentina, Maria
Passa Cantando, Miramolin Mansour da Linha, Manuel Arrependido Gomes, Maria
Coragem da Cruz, Naftalina, Nacionézia, Nacional Futuro da Pátria
Brasileira, Nacional Futuro Provisório da Pátria, Povo, Neto
Louro das Cotias, Natal Criança de Castro, Náusea Pereira,
Ouvindo Pedro Franco, Odin Indiano Americano do Brasil Ótima, Ouriço,
Atila Dantas, Oceano Atlântico, Oceano Pacífico, Obstinada,
Osso, Primeira Delícia, Palestra Itália, Pegueite, Portaleconina
de Assis, Padre Bispo Cardeal, Quimbar-H, Raimundo Papa Leão, Restos
Mortais de Catarina e Silva, Raimundo Raio de Estrada de Ferro Brasileira,
Rodo Metálico, Sahara, Símio, Termina de Castro, Tox Mix
Bala, Tuessanta, Terezinha Tosse, Um Dois Três de Oliveira Quatro,
Vai por Mim Beleza, etc.
A abundância de tais antropônimos esdrúxulos levou
o etnógrafo Mário Souto Maior a publicar, em 1974, um dicionário
Nomes Próprios Pouco Comuns.
Excentricidades símiles também se verificam em outros
países; p. ex., nos Estados Unidos, consoante o vol. 36, n°
216, do Reader's Digest, de Nova Iorque, 1940: Tuvila, Onza, Swanell, Besma,
Yetive, Leetha, Versey, Gomeria, Valaria, Bashie, Icel, Waive, Bleba, Latrina,
Margorilla, Handbag, Bootjack, Lingo, Himself, Solicitor, Wahwah, King
Salomon, Fate, Highwater, Pylorus, Diaphragm, Esophagus, Hernia, Meninges,
Thyroid, Autopsy, Leviticus, Land of Moab, Psim C. Jackson (= "Psm. C",
salmo cem), Matthew Mark Luke John Acts-of-the Apostles Son-of-Zebedee
Garden-of-Gethsemane Hill, etc. (H. L. Menken, Bizarre Nomenclature, Mostly
Feminine).
"Singularíssimo nome de batismo, diz J. L. de Vasconcelos, é
Rodasnepervil, que corresponde, letra por letra, a livre-pensador, lido
às avessas", porém a criança foi batizada!
Outros anagramas: Sued (fem.) = Deus; Edazima = amizade; Oruasi = Isauro;
Aníole = Eloína; Amary (masc.) = Maria; Acirema = América;
Leonam = Manoel; Ailema = Amélia; etc.
Se compararmos certos nomes, chama logo a atenção a variação
vocálica e a consonântica ou a presença e ausência
de fonema entre os mesmos, fato já observado no capítulo
anterior (Odete-Odite, Norma-Nirma, etc). Eis mais exemplos: Odil-Odir,
Laury-Lary, Naura-Nara, Erivalto-Herivelto, Inon-Enon, Glaci-Gleci, Dalma-Delma-Dilma...
Como sucede com qualquer palavra, os nomes de pessoa se difundem, mais
ou menos rapidamente, por imitação, e podem ainda surgir
como fato independente, paralelo, em qualquer comunidade.
Tenha-se presente ainda, e é muito comum, que, na ocasião
do registro oficial, aparecem modificações pela má
pronúncia da pessoa de pouca ou nenhuma instrução,
ou por descuido ou despreparo do cartorário. Daí as novidades:
Abigair (Abigail), Arcino (Alcino), Alminda (Arminda), Bedenego (Abdénego),
Cicínio (Sisínio), Cylvina (Silvina), Dolival (Dorival),
Dilceu (Dirceu), Deusdete (Deusdedit), Ermes (Hermes), Elvino (Ervino),
Esmael (Ismael), Erotildes, Irotildes (Erotides), Gamalier (Gamaliel),
Hegino (Higino), Jalbas (Jarbas), Merênda (Emerência), Niusa
(Neusa), Orélia (Aurélia), Orides (Eurides), Pracheda (Praxeda),
Rivaldávia (Rivadávia), Sidinei (Sidney), etc.
Há casos em que se denuncia estrangeirismo: Élio (it.
Elio), Alécio (Alessio), Ledy (Lady), Araldo (it. Araldo), Abrahim
(ár.), etc. Em exemplos como Karla, Monika, etc., temos influencia
do alemão.
Não é raro o fato de estrangeiros traduzirem seu nome
ou sobrenome, porém de que somente é possível ter
conhecimento pelas próprias pessoas: Pacífico (ár.
Salim), Pinheiro (al. Fichte), do Vale (hol. van der Haagen), etc. As vezes
é apenas adaptação ou aportuguesamento: Rodovalho
(fr. Rodovel), Fálqui, Falque (it. Falchi), Zuquim (it. Zucchini),
Pavão (it. Pavan), Franciscão (it. Francesconi), Costinha
(gr. Kotzías), etc.
Há nomes de personagens ilustres ou históricas: Cristóvão
Colombo, Harvey, Hudson, Wellington, Bolívar, Sílvio Péllico,
Agassiz, Arago, Staël, Byron, Napoleão, Carlomagno ("sic"),
Kennedy, Karl Marx, Francisco Solano Lopes, etc.
Influenciadas pelas artes, pela literatura, as mães, mais do
que os pais, buscam dar nomes modernos e de heróis romanescos. Pelas
obras de José de Alencar, divulgaram-se Araci, Juraci, Ubirajara,
Iracema, Diva, Peri...; por Alexandre Herculano Hermengarda...; por Byron
Mozart; por Lamartine Elvira; por Petrarca Laura; por F. Romani e Vicente
Bellini Norma; por Vítor Hugo Esmeralda; por G. Verdi Aída,
Gioconda, Fornarina...
A "biblioteca das moças" andou espalhando Magali, Valderez,
Magelone, Marly ou Marlitt, etc.
Por influxo do cinema: Marlène, Douglas, Shirley, Peggy, May,
Dorothy, Mary, William, Betty, Jean, Dalton, Gladys, Ingrid, Sheila, Ellen,
Lilian, Elvis, Tarzan, etc.
São produtos de poetas as especialidades anagramáticas:
Aônia (Ioana), Natércia (Caterina), Belisa (Isabel), Ármia
(Maria), Nize (Inez), etc.
23. Origem do Nome e do Sobrenome em Geral.
A origem do dar nome às pessoas decorreu da necessidade 1 °)
de citá-las, 2o) de chamá-las, e 3o) de distingui-las entre
as demais, dentro da família e dentro da comunidade.
A existência dos antropônimos está documentada em
todos os povos, em todas as línguas, em todas as culturas, em todos
os tempos, desde os primórdios da humanidade. E quando eles surgiram,
levavam consigo um significado que, em geral, traduzia qualquer realidade
condizente com os indivíduos seus portadores.
Porém, as pessoas recebiam apenas um nome, o nome individual,
como acontece ainda hoje entre diversos agrupamentos humanos. O aparecimento
do segundo nome, ou sobrenome, em certos povos verificou-se em tempos relativamente
recentes. E o fato assim se explica. O nome de um indivíduo de tal
família foi aplicado também a um membro de outra família,
ambas da mesma comunidade. Percebeu-se, todavia, que no relacionamento
direto ou indireto entre si, a homonímia gerava confusão
ou possível confusão, e, para evitá-la houve necessidade
de qualquer distinção, por algum destes recursos: Io) Fulano
filho (ou da família, do clã, etc.) de Beltrano; 2o) Fulano
de Beltrano ; 3o) Fulano do país, da província, da cidade,
da aldeia, do solar, do monte, da plantação, etc.; 4o) Fulano
o agricultor, o pastor, o guerreiro, o cavaleiro, o pedreiro, o açougueiro,
etc., ou Fulano filho do agricultor, etc.; 5o) Fulano o gordo, o baixo,
o coxo, o vesgo, o moreno, o loiro, o (de olhos) azuis, o (de nariz de)
tucano, etc.; 6o) Fulano o esperto, o corajoso, o valente, o briguento,
o pacífico, o religioso, o calado, o nobre, o sabichão, o
casado, o solteiro, o pai, o filho, o velho, o moço, etc.; 7o) Fulano
(parente ou vizinho) do conde, do duque, do padre, etc. Quase todos estes
recursos são qualificados de alcunhas.
E tais adendos, que eram peculiares a um indivíduo, vieram,
contudo, a ser empregados pelos filhos, passando a ser herança da
família, e daí aos outros, aos novos descendentes.
A adoção de um sobrenome às vezes foi, entre certos
povos, por obrigação de dispositivo legal.
24. Antropônimos de Indígenas Brasileiros.
Entre os antigos tupis o recém-nascido recebia apenas um nome.
Adulto, quando em guerra, cada vez que conseguia prender e matar um inimigo,
era ocasião para tomar outros nomes. E quanto maior era o seu número,
tanto maior era a sua fama de grande guerreiro. Testemunha-o Hans Staden,
que esteve no Brasil na segunda metade do séc. XVI: "Logo que nascem,
recebem um nome; depois que crescem, tomam mais nomes, conforme o número
de inimigos que vão matando" {Hans Staden, 4a ed., 1945, p. 45).
Todavia, o mesmo autor, mais adiante, refere que o pai de uma criança
"resolveu escolher o nome de um dos seus quatro antepassados, e disse que
as crianças com três nomes vingam bem e dão hábeis
caçadores de prisioneiros" (ibidem, p. 47).
Seus nomes eram os de animais, aves, vegetais, objetos vários,
mas também aludiam a qualidades: Kaìguaçú,
"macaco grande", Jaguàtinga, "jaguar branco", Guabirú, "rato",
Ajurùiguaçú, "papagaio grande", Mboí, "cobrinha",
Tajàpuã, "tajá redondo", Kaguara, "bebedor de cauim",
Nheengaroby, "cantor azul", Korõrõguaçú, "grande
roncador", etc. (Claude d'Abbeville, Hist. da Missão dos Capuchinhos
na Ilha do Maranhão, "passim").
Jean de Lery na Hist. de uma Viagem à Terra do Brasil (trad.
de M. Lobato, 1926, p. 193) anotou estes nomes entre os mesmos tupis (ou
tupinambás): Oropacen, "corda e arco", Sarigüé, "gambá",
Arinhã, "galinha", Arabutã, "pau-brasil", Pindoba, "uma palmeira",
etc.
Como o nome de Lery coincidisse com o tupi reri, "ostra", esse francês
apresentou-se como Lery-açú, "ostra grande". Os tupinambás
apreciaram o nome: "Na verdade, eis um bonito nome, que jamais vimos
em nenhum mair (branco)" (p. 203).
Exemplos apanhados pelo missionário Pe. André Fernandes
de Sousa ("Nomes Indígenas" "in" Rev. do Museu Paulista, XIV, 1926,
p. 639, "apud" Pe. Constantino Tastevin): Nomes tupínicos masculinos:
Cauã, "gavião", Uambé, "cipó", Ubim, "palmeira",
Ayuri, "reunião", Inambu, "nhambu", etc. Femininos: Patauá,
"uma palmeira", Uçá, "carangueijo", Cupim, Uyepe, "uma só",
etc.
Dos indígenas canamaris (catuquina), obtidos pelo Pe. C. Tastevin:
Awanó, "borboleta", Warinã, "abelha-uruçu", Wahidong,
"igarapé", Cawadac, "casco de tartaruga", Comedie, "sardinha", Kiama,
"piau" , Taero, "sapo-cururu", Bico, "ostra", etc.
Nome de uma índia cainguá (guarani): Jacitin, "lua (jaci)
branca (tin)". Nomes caigangues do Paraná: Nhaia, "milho", Min-aran,
"tigre-sol", Arankuxó, "sol vermelho", etc.
Entre os canelas (jê), do Maranhão: Oropóká
(= oróp, "onça"), Pôt-dê (= pót, "tamanduá"),
Put-kôi (= put, "sol"), etc.
Entre os bororos, de Mato Grosso: Mànno, "palmeira", Maridduiapo,
"buriti", etc.
Entre os caxinauás (pano): Dômo-kuru, "tabaco pardo",
Daçô, "lambe", Kupi, "paga", Tiwa, "exprimido", Morô,
"frágil", Xanö, "cantador" (de sapateados), Iaça, n.
da mulher que virou lua, Xakakiaki, "carangueijo", Dunu-nava, "gente de
cobra" (n. de um caxinauá devorador de cobras), etc. Outros exemplares,
traduzidos: "É bom", "Esperou", "Esfriou", "Já foi também",
"Engatinha", "Vai-te", "Doce", "Seco"...
Nomes tupis de chefes indígenas: Jaguar, Piragibe, Poty, Piquirobi,
etc.
Interessantes notas colhidas aos caingangues de Palmas (Paraná)
Por Herbert Baldus (Ensaios de Etnologia Brasileira, 1937, p. 40): "O pai
conta ("sic") ao filho ou à filha cinco, oito ou dez nomes, e todos
estes nomes são diferentes uns dos outros, e cada caingangue tem
outros, porque entre nós (fala um chefe indígena) não
é assim como entre os portugueses onde quase todos se chamam José
ou Maria ou João ou Antônio". (Esse chefe) Kõinkang
designou os nomes índios como "nomes do mato", em contraste com
os nomes e apelidos portugueses, com os quais os caingangues de Palmas
são conhecidos entre os vizinhos brasileiros ou, como dizia, "entre
os portugueses".
Observações do mesmo autor com referência aos Terenos,
que habitam perto de Miranda, sul de Mato Grosso (pp. 71-72): Um tereno
de nome José Correia: "Seu nome em tereno era antigamente Kalapetí,
i. é, canhoto, o que, porém, não era alcunha, sendo
verdadeira casualidade o tornar-se ele mais tarde realmente canhoto.
"Os nomes são dados, logo depois do nascimento, por um velho,
parente chegado do pai ou da mãe. Quando a mãe de José
morreu, um parente velho do pai deu-lhe um nome novo: Niliki.
"Quando um dos pais morre, todos os filhos recebem novos nomes para
que o pai sobrevivente não se lembre do passado, por meio dos antigos
apelidos e para que, assim, não se entristeça. Se o pai sobrevivente
também morre, não se mudam mais os nomes dos filhos. Os de
outras pessoas, p. ex., o viúvo ou da viúva, ficam sem alteração
no caso de morte".
25. Particularidades dos Nomes entre Vários Povos.
Vejamos o que em Portugal se entende por sobrenome e apelido. Segundo
J. L. de Vasconcelos (Antroponimia Portuguesa, p. 11), "sobrenome é
um patronímico, nome de pessoa, expressão religiosa ou outra,
que se junta imediatamente ao nome individual, com o qual como que forma
corpo: Mêndiz, Augusto, César, da Conceição..."
Em S. Francisco Xavier, Xavier é sobrenome. Vutierre Mêndiz,
César Augusto, Antonio César, Maria da Conceição.
Apelido é, em Portugal, conforme o mesmo autor, "designação
de família, transmitida ordinariamente de geração
em geração". Exs.: Rui Queimado, Antônio Augusto de
Aguiar, Maria da Conceição Rosado.
"A diferença fundamental, afirma J. L. de Vasconcelos, entre
sobrenome e apelido, na nomenclatura atual, e mais corrente, está
em que aquele é individual, ou apenas comum a vários irmãos,
embora às vezes transmissível a filhos, e o apelido é
genealógico, isto é, comum na essência à família
toda".
O sobrenome pode resultar de um nome próprio, o qual "representa
por vezes o nome próprio ou o sobrenome do pai, do padrinho, de
um parente, de um protetor, outras o nome do santo do dia do nascimento.
Às vezes resulta de arbítrio ou de causas que não
podem reduzir-se a regra. Também acontece com freqüência
que não só o sobrenome se torna tradicional na família,
correspondendo assim a um apelido, mas através de algumas gerações
passa para o meio ou para o fim do nome", como Antônio Pedro, José
Paulo, Fausto Tomás, etc.
Assim é, também, que de João Batista de Morais,
pode resultar que o filho assine Antônio Batista de Morais. A homenagem
a S. João Batista foi aqui um pouco esquecida.
No Brasil, não se dá a apelido o significado que se conhece
em Portugal. Apelido, para todos ou quase todos, é sinônimo
de hipocorístico (designação científica), isto
é, expressão familiar, de carinho ou intimidade, geralmente
não depreciativa. Exs.: Zezinho, Zeca, Zé, Juca, Maricota,
Cota, Cotinha, etc. (Otelo Reis, "Hipocorísticos Brasileiros e Portugueses"
"in" Miscelânea de Estudos em Honra de Manuel Said Ali, Rio, 1938,
p. 95).
E, por alcunha, entende-se um nome bom ou mau dado a alguém,
em vista de uma qualidade física ou moral ou de certa particularidade
da sua vida (como profissão, religião, etc). Exs.: Manuel
o Venturoso, Isabel a Redentora, Ivã o Terrível, Ernesto
Sabichão, etc., Terrão, Mostardeiro, Lavandeira, Guião,
Virtuoso, etc., eram primitivamente alcunhas, hoje sobrenomes.
"Hoje, continua J. L. de Vasconcelos, não falta quem por sobrenome
entenda tudo o que se junta ao nome, seja sobrenome propriamente dito,
seja apelido, seja um e outro." E assim foi entendido neste dicionário.
Patronímico, que acima se falou, é um sobrenome derivado
do nome do pai, pelo qual, na Idade Média, se indicava a filiação.
É caracterizado pela terminação -ez no português
arcaico e no atual espanhol e -es no port. hodierno: Fernandes, (filho)
de Fernando, Gonçalves, de Gonçalo, Peres e mais tarde Pires,
de Pero (Pedro), Ennes, de Eanne (João), etc.
Quanto à origem dessa terminação, há quem
o faça (Larramendi, B. de Bengoa, Gárate) de origem basca,
como em berun, "chumbo", berunez, "de chumbo". Mas não há
exemplo em antropônimo dessa proveniência. Assim Manuel de
Garragorri, e não Garragorriez.
Outros, como Schulze, vêem aí origem céltica; como
Gray, procedência indo-européia; como Schuchardt, Menéndez
Pidal, Dauzat, proveniência ibérica; como Lapesa, origem lígure;
corno García Gómez, origem arábica.
Meyer-Lübke inclinava-se a ver aí a desinência do
genitivo gótico: Roderiquiz (em docs.) = gót. Hrôthareikis.
Parece, contudo, resolvido que procede do genitivo latino -ici > -eze
> -ez, -es: Ferdinándici ("de ou do Ferdinando") > Fernández,
Fernandes, como se o nominativo fosse *Ferdinandicus (Cp. Dominicus, Dominici,
etc.).
Entre os romanos, o uso era o seguinte. Primitivamente, o cidadão
romano possuía apenas o nome individual ou praenomen: Marcus, *Publus.
Depois, acrescentou-se o nome da sua gens (nomen gentilicium): Marcus Tullius,
Publius (em vez de *Publus) Cornelius, etc. E à medida que se multiplicavam
os seus membros, havia subdivisão em familiae, e ajuntava-se o cognomen
da família propriamente dita: Marcus Tullius Cicero, Publius Cornelius
Scipio, e ao qual, às vezes, se apôs uma alcunha ou sobrenome
pessoal (agnomen), indicador de algum sucesso, de alguma circunstância
ou particularidade física ou moral: Publius Cornelius Scipio Africanus.
Felix, "o feliz"; Nasica: "o narigão"; etc.
Terminavam todos os nomes gentílicos em -ius, sufixo patronímico
que se ajuntava, na origem, aos nomes individuais. Cp. Marcas (prenome)
e Marcius (gentílico); Octavus e Octavius; Tullus e Tullius. Deverá
ter existido outrossim Publus, cujo patron. é Publius.
O sufixo -anus ou -ianus servia, em geral, para formar o cognome de
um filho adotivo, ou de um escravo, o qual ficava com o prenome e o cognome
do adotante. Este sufixo podia traduzir também filiação:
Vespasianas é filho segundo de Vespasia. Príscianus era filho
terceiro de Priscus.
O sufixo diminutivo -illa podia indicar ascendência materna para
a mulher: Livilla era filha de Livia.
O sufixo -inus podia servir de diminutivo ou de patronímico:
Albinus, Rufinus, etc.
Entre os gregos de família nobre, antes da época homérica,
formaram-se patrônimos mediante o sufixo -eidês (e -ades):
Aristeídês (Aristides), filho de Aristeús. Mais tarde,
por motivos políticos-sociais, não prevaleceu tal praxe.
Na época clássica, oficialmente, o ateniense recebia
ao nascer um nome, ao qual se acrescentava, quando maior (18 anos), o de
seu pai (no genitivo) e o de seu demo (divisão tribal): Dêmosthenês
Demosthenous Paianieus = Demóstenes, (filho) de Demóstenes,
do demo de Peania (Paianía).
Na vida corrente, bastava o nome individual, ou, quando muito, no caso
de precisão, juntava-se o nome do pai.
Junto ao nome da mulher, oficialmente, ia o do pai, ou, quando casada,
do nome do marido, e por fim do seu demo.
Em Atenas, o filho primogênito em regra recebia o nome de seu
avô paterno, e os demais os de outros ascendentes.
Quanto à composição dos elementos, ao lado da
forma primitiva (o determinante a preceder o determinado; praxe dos idiomas
indo-europeus) Theódôros, Nikóstratos, Leôkritos,
houve Dôrótheos, Stratonikê, Kritólaos, etc.
(M. Bréal, Essai de Sémantique, 6a ed., p. 163).
Entre os italianos, o principal característico dos seus antropônimos
é a presença, com enorme freqüência, da terminação
-i {Orsini, Grassi, Parodi, etc.), e, mormente, na quase totalidade dos
sobrenomes toscanos. Todavia, esporadicamente, há muitos arcaicos
acabados em -o, -e, -a que se têm conservado até hoje Farano,
ao lado do recente Farani.
Pensou-se que o -i fosse sinal de um genitivo latino (ainda há
quem assim pense; p. ex. J. G. Fucilla), mas está em definitivo
assente que é marca do plural (dos nomes em -o, -e). Os nomes individuais,
ou não, passaram para o plural a fim de designar o conjunto dos
membros da família. Prova-o, diz A. Dauzat, o uso espalhado desde
o fim da Idade Média, de fazer preceder o nome de família
dum partitivo plural, como Guglielmo degli Orsini, i. é, Guilherme
(da família) dos Orsini. Um indivíduo chamado Vecchio pode
tornar-se tronco da família dei Vecchi, donde Pietro dei Vecchio
e com supressão de dei: Pietro Vecchi.
Consoante J. G. Fucilla, pode-se determinar a região de origem
dos sobrenomes italianos, pelos seus sufixos: -acco, -asco, -ate são
geralmente da Itália setentrional; -emi, -è são sicilianos;
-à são calabreses ou sicilianos. Pela prefixação
de di, del, dei, degli são da Itália central ou setentrional;
da, dalle, dalla são mais especificamente setentrionais.
Em romeno o sufixo -escu, tomado ao grego, mas especializado, é
que indica relação de parentesco (Basilescu, primitivamente:
"filho de Basilio").
Nas línguas eslávicas há sufixos que são
comuns a mais de uma, e a distinção, às vezes, só
é possível pelo primeiro elemento.
Entre os sufixos do ucraíno, o de patronímico -enko (fem.
-enka) é exclusivamente desse idioma. São muito comuns, entre
outros, os sobrenomes com estes: -uk, -chuk, -yuk, -yak, -in, -s'kyi; -ov:
Tomasyuk, Antonchuk, Pavlyak, etc.
Na Ucraína de outrora, sobrenomes com o sufixo -s'kyi pertenciam,
em máxima parte, à aristocracia e à nobreza.
Sobrenomes em -off, -ov, -(v)ich são russos: Rachmaninoff, Molotov,
Nikolaievich, etc. Os acabados em -(v)ich são patronímicos
masculinos, e os em -vna são femininos: Iwan Nikolaievich, Semyonov
(João filho de Nicolau da família de Simeão), Olga
Nicholaievna, Semyonova (Olga filha de Nicolau da família de Simeão).
O sufixo -(v)ich, embora não considerado tipicamente russo,
foi tido na Rússia, em grande honra no século XVI, de tal
modo que somente o tzar tinha a faculdade de decidir quem o poderia usar.
São russos ou búlgaros os sobrenomes em -eff, -ev: Gheorghieff
Andreiev, etc.
Em polonês são mui comuns patronímicos em -ski:
Alexinski, p. ex., na origem, "filho de Alexis". O feminino correspondente
é -ska: Alexinska. Há também, entre outros, o patronímico
em -wicz (pronunciado -vitch): Piotrowicz, Sienkiewicz, etc.
Com a palavra "filho" pode-se formar compostos patronímicos,
nas línguas germânicas. Em al. -sohn (também -son,
etc.): Mendelssohn (filho de Mendel); em ingl. son: Robinson (filho de
Roberto); nos idiomas escandinávicos, especialmente no dinamarquês:
-sen : Petersen (filho de Pedro). Em irlandês e escocês mac:
Mac Adam (filho de Adão), Mac Donald (filho de Donaldo). Estas línguas
usam também de o' para indicar "neto": O'Connor, O'Neill, etc.
Nas línguas germânicas, os sufixos -ing, -ung designam
também a filiação: al. Edeling (filho de Edel) (cp.
Carolíngios, Merovíngios = "descendentes de Carlos, de Meroveu"),
Adelung (filho de Adel), etc.
Em inglês: Harding, primitivamente: "o da família, o descendente
de Hard"
O -s do inglês em Roberts, Williams, etc., apresentava-se assim
anteriormente Robert's, William's, etc., e designava o membro da família
de Robert, William, etc. (John Robert's family, etc.).
Em árabe e em hebraico o parentesco é indicado mediante
ben, "filho": Ali ben Khalifa (Ali filho do Califa), Ben Hur ("Filho de
Hur"). Em aramaico, por bar. Tholomai, Bartolomeu (= filho de Tholomai).
Os sobrenomes arábicos provenientes de adjetivos costumam levar
antes de si o artigo al: Ibrahim al Halil, Feres al Merhy, Iússuf
al Mansur, etc.
Com qualquer sobrenome, usa-se êl (= al com "madda"), que se
traduz "família": El Garíos, "a família Guérios".
Em muitos países (Hungria, Japão, China, etc.), é
praxe antepor o sobrenome (nome de família) ao nome individual.
Assim, Chiang Kai-Shek é Kai-Shek da família Chiang.
Em outros países, como na Itália, essa colocação
só se verifica em listas, como nas guias telefônicas.
26. Particularidades do Português.
A partícula de em português é usada em três
circunstâncias, segundo J. L. de Vasconcelos: 1a) Anteposta a um
topônimo ou nome geográfico (sobrenomes toponímicos
ou geográficos): Antônio de Azevedo, Odilon de Oliveira, etc.
Às vezes caiu em desuso: José Loureiro, Paulo Pereira, etc.
Em Portugal é raro com estes exemplos: José de Loureiro,
João de Pereira, etc, e mais ainda: José do Loureiro, João
da Pereira, etc.
Um lugar, p. ex., em que abundavam azevinhos recebeu o nome de azevedo.
O solar, a herdade ou a vila com essas plantas podia receber também
o nome de Azevedo, e a família ou as famílias que aí
se formavam ou apenas moravam, ou daí procedentes, foram apelidadas
de Azevedo, ou do Azevedo.
E o caráter de fidalguia que os nobres atribuíam à
partícula de provém disso, designação do local
do nascimento, residência ou procedência, e principalmente
por designar posse de senhorios (honras, coutos, terras, quintas, etc).
2a) Anteposta a um nome religioso (sobrenomes religiosos ou cristãos):
Pedro dos Santos, Manuel do Rosário, Maria da Assunção,
Maria das Dores, Joaquim de Paula (em vez de Joaquim de S. Francisco de
Paula), etc.
Não raro vem supressa a preposição com o artigo:
Pedro Santos, João Rosário, Paulo Assunção,
José Reis, etc.
3a) Em expressões populares: a Maria do Bernardo, i. é,
filha de Bernardo de tal ; o João da Inês, filho de Inês
; a Luísa do José Carvalho da Ludovina, filha de J. Carvalho,
casado com Ludovina; a Gertrudes do Domingos, mulher de Domingos; o Carlos
da Georgina, marido de Georgina; etc. Uma curiosidade: por um Diogo ser
casado com uma Josefa, resultou dizerem os vizinhos: o Diogo da Josefa,
falando dele, e a Josefa do Diogo, falando dela.
Partículas símiles ao 1o caso temos em francês
de, du (De la Roche, Du Puy, etc.); em italiano de (De Mio, De Amicis,
Del Gaudio, etc.); em alemão von {Von Hindenburg, Von Tirpitz, etc.);
em holandês van (Van Dyk, Van der Ley, etc.).
No Brasil e em Portugal há quem use e entre dois sobrenomes
para designar a junção de famílias pelo casamento:
Plácido e Silva. Conforme crê J. L. de Vasconcelos, a sua
abundância data do séc. XVII para cá.
J. L. de Vasconcelos apresenta exemplos do séc. XVI ao XVIII
em que o segundo sobrenome é da linha materna. Mas há exemplos
em contrário.
"Se esta regra fosse constante, continua o ilustrado filólogo,
e talvez o fosse na origem, teríamos aqui o mesmo uso que em Espanha
(Juan Ruiz de Alarcón y Mendoza, etc.), onde um apelido (ou sobrenome),
precedido de y é da linha feminina. Contudo já nos sécs.
XVII-XVIII encontro e usado sem significação especial: Josefa
da Cunha e Meneses... No séc. XIX: Alexandre Herculano de Carvalho
e Araújo, filho de Teodoro Cândido de Araújo. Os
que hoje usam e, termina J. L. de Vasconcelos, creio que o fazem ao acaso".
Mas Alexandre Herculano evitou a repetição da preposição
de Carvalho de Araújo.
No Brasil há liberdade quanto à adoção
e colocação de sobrenomes; todavia costuma-se usar o sobrenome
da mãe antes do do pai: Bernardo Pereira (materno) de Oliveira (paterno),
ou apenas o sobrenome paterno Bernardo de Oliveira. Uma Faustina Álvares
casando-se com Bernardo Pereira de Oliveira, pode assinar: Faustina Álvares
de Oliveira, Faustina Pereira de Oliveira, Faustina Álvares Pereira
de Oliveira ou ainda Faustina de Oliveira.
O filho pode chamar-se à vontade: João Álvares
Pereira de Oliveira, João Álvares de Oliveira, João
Pereira de Oliveira, ou simplesmente João de Oliveira. O que não
é comum João Álvares, ou João de Oliveira
Álvares, etc.
Para terminar, atendamos a uma pergunta que se pode muito bem fazer
Todas as pessoas que usam o mesmo sobrenome, procedem de uma só
família?
"A resposta, diz J. L. de Vasconcelos, pertence mais à História,
isto é, à Genealogia, do que propriamente à Filologia;
far-se-ão contudo aqui algumas reflexões.
"Apelidos (sobrenomes) provindos de patronímicos, de nomes próprios
de pessoas, da religião, não indicam necessariamente parentesco,
o que não significa que ele às vezes não exista. Com
efeito, todos esses apelidos (sobrenomes) se formam em circunstâncias
que nada têm especial. Bastava que um indivíduo se chamasse
ou chama Rodrigo, para que o filho recebesse ou receba o sobrenome de Rodríguez
ou de Rodrigo, depois transmitido como apelidos (sobrenome).
"Quanto aos apelidos provenientes da geografia, de alcunhas e de línguas
estrangeiras, convém notar que, se há apelidos muito corriqueiros,
por exemplo, Carvalho, Coelho, Costa, Pereira, Pinheiro, Silva, Teixeira,
há os raros ou pouco vulgares, por exemplo, Aboim, Alarcão,
Homem, Sepúlveda. Os primeiros estão no mesmo caso que os
de cima. A respeito dos outros já não serei tão afirmativo.
"Posto que da vulgaridade de um apelido não possamos inferir
logicamente relações de família, é certo que
um apelido (sobrenome) se propaga através das gerações
com muita facilidade, e que, portanto, parecendo ao repente não
existirem laços de sangue entre duas pessoas de apelido Carvalho,
só porque é trivial, eles às vezes existem realmente".
(Antroponimia Portuguesa, p. 334).
Os sobrenomes raros ou pouco vulgares (Perantunes, Cirne, Soeiro, etc.)
têm mais possibilidade de uma ascendência comum do que, p.
ex., os geográficos (e são numerosos), que podem ter origem
em mais de uma localidade homônima em Portugal.