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Ancestrais de Maria Lucinda Coutinho de Arruda
Genealogia de
Domingos José Freire
Domingos
José Freire, foi educador de
certo renome na época, dirigiu até 1862 o colégio de São Cristóvão, na rua
do Pedregulho, no. 56. Publicou A paixão de Olímpia (Rio de Janeiro,
casa Garnier), tinha dois irmãos foi casado com Lauriana Rosa Luciana Freire e deixou
alguns filhos dos quais temos conhecimento de:
1- Domingos José
Freire Junior, nasceu em 5 de Novembro de 1843, no Bairro de São
Cristóvão, na cidade do Rio de Janeiro, era médico sanitarista,
faleceu em sua casa, na estação do Encantado, subúrbio de Inhaúma,
Rio de Janeiro, numa rua que já se chamava rua Dr. Domingos Freire, em
21 de Agosto de 1899, viúvo de Maria Eugênia de Figueiredo,
não tiveram filhos e não deixou testamento. Biografia abaixo.
2- Laureana Freire casada com Francisco Antonio de Almeida Bastos,tiveram uma filha única Laura Bastos Freire:
3- Carlos Freire era
pintor.
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Biografia de
Domingos José Freire Junior
Há
ainda uma certa historiografia da medicina que costuma tratar daqueles feitos
que abriram novos caminhos e possibilitaram descobertas de grande importância.
A medicina é analisada segundo a perspectiva do "progresso", da
descoberta de tal remédio ou instrumento que tenha salvado mais vidas e/ou
minimizado o sofrimento das pessoas. Nesta abordagem, quando trata de
personalidades importantes na história da medicina, só há lugar para aqueles
cujos trabalhos científicos sejam considerados como contribuições ao que se
chama de "avanço" da medicina.
Nestes
termos, o livro de Jaime Larry Benchimol, Dos micróbios aos mosquitos, febre
amarela e revolução pasteuriana no Brasil, vem no sentido
contrário desta corrente, no que é muito bem-vindo. Traz um tema que para o
leitor moderno, do mundo ocidental e urbano, tornou-se desconhecido: o da
realidade da "peste", no seu sentido mais amplo de doença mortal que
se propaga, ceifadora de vidas numa proporção que já esquecemos tanto sua
dimensão quanto seu significado.
A
vida e os feitos de Domingos Freire (1843-99), médico que se empenhou na
pesquisa da febre amarela e que alegava ter descoberto uma vacina contra a
mesma, chegando a empreender campanhas de vacinação durante a década de 1880.
Figura polêmica, que angariou muitos inimigos, sem dúvida por causa do estilo
que dirigiu sua carreira profissional e pela paixão e obstinação com que
conduziu sua crença no que considerava ser a vacina contra a febre amarela,
Domingos Freire pode ser considerado um perdedor, um looser, tendo sido,
inclusive, vítima do escárnio de seus adversários e objeto de uma peça de
teatro satírica, publicada em Buenos Aires no ano de 1897, que ridicularizava
sua personalidade e sua alegada descoberta.
Jaime Benchimol não se restringe a tratar a biografia deste personagem, mas,
tendo-a como texto e pretexto, traça um bem fundamentado estudo sobre os primórdios
da medicina pasteuriana no Brasil, ocupando-se de médicos que uma geração
antes de Oswaldo Cruz já se dedicavam a ela. Com seu trabalho, deixa claro que
a atividade de Oswaldo Cruz não nasceu do nada, como uma criação ex-nihilo,
mas teve seus antecedentes históricos com os quais se relacionou, seja
prosseguindo alguns de seus rumos, seja provocando um corte em relação a
outros. Mas o trabalho do autor não se limita a esta contribuição ao estudo
da história da medicina no Brasil.
Fugindo
de abordagens anacrônicas, que procuram entender os eventos do passado segundo
as premissas do presente em relação ao certo/errado, sucesso/fracasso, o autor
trata de entender, no seu contexto histórico, os elementos sociais, políticos,
econômicos e de relações interpes-soais que, como molduras, nos permitem um
vislumbre mais apurado do quadro de uma época e de um tema contextualizado.
Jogam neste cenário vários elementos analisados por Benchimol.
A
febre amarela era vista como um flagelo nacional que ceifava muitas vidas (o
autor fornece tabelas com os dados; só em 1880 faleceram na cidade do Rio de
Janeiro 1.625 pessoas) e impedia a imigração de europeus para o Brasil, o que,
na visão de algumas pessoas da época, reforçava o seu atraso. Encontrar uma
cura, prevenção ou modo de reduzir seus efeitos era um tema de primordial
importância. Só que na década de 1880, a etiologia da moléstia ainda era
tema de acirrada disputa entre os médicos.
Esta disputa se desenrolou em dois campos. O primeiro entre os que defendiam a
natureza microbiológica da febre amarela, ou seja, sua ligação a algum
organismo microscópico, e os que defendiam a origem miasmática da mesma,
ligada ao clima e a condições geográficas. O segundo campo foi a competição
entre os médicos que aceitavam as novas idéias de Pasteur e que acreditavam
ser a febre amarela provocada por algum microrganismo. Aqui a luta era pela
primazia da descoberta, por ser o primeiro a descobrir o agente causador, um
meio profilático ou de cura. O autor demonstra o quanto a paixão muitas vezes
tomou o lugar do que se poderia esperar ter sido uma discussão científica
"pura". Aliás, uma das virtudes do livro de Benchimol é mostrar o
quanto a pesquisa científica, mesmo aquela que se faz nos laboratórios, em
meio à "experimentação objetiva", é resultado, também, de outros
elementos menos encefálicos e mais viscerais. Os que constroem a ciência são
homens de carne e osso e por isso mesmo levam seus trabalhos com paixão e por
ela são, também, arrebatados.
Benchimol
revela o quanto a imprensa da época, restrita então a uma ínfima parcela da
população que tinha acesso à leitura, serviu como veículo de discussão, polêmica
e ataques entre os diversos personagens envolvidos. De especial interesse é a
figura de um cronista do Jornal do Commercio, de apelido Felipe,
que escrevia uma coluna intitulada "cartas de um caipira". Este
personagem polemizou com Domingos Freire não sobre a vacina contra a febre
amarela, mas sobre a aplicação subcutânea de salicilato de sódio, defendida
então, em 1880, por Freire como tratamento profilático. Sem ter identificado
este interessante personagem numa das notas ao texto Benchimol sugere a
possibilidade de ter sido uma poetisa , os textos da polêmica demonstram o
calor do debate e suscitaram, na época, questões interessantes sobre o papel
da imprensa na cobertura de fatos científicos e os limites aceitáveis de uma
crítica.
As dificuldades locais para se empreender pesquisa científica são também
assinaladas pelo autor. Aqui, ele merece mais uma menção de louvor. Benchimol
poderia ter enveredado pelo fácil caminho de atribuir às limitações da ciência
local, em termos de falta de laboratórios, de remuneração para o pesquisador,
de acesso à literatura científica internacional, como os fatores
preponderantes do fracasso de Freire e de outros. Contudo, não o fez. Sem
nenhuma nesga de ufanismo, demonstra o quanto os principais personagens tiveram
boa formação científica quer no Brasil, quer no exterior, e de como os erros
de suas teorias não podem ser atribuídos a algum defeito da "ciência dos
trópicos". Ao analisar, por exemplo, os métodos errôneos de estatística
empregados por Freire no afã de provar a eficácia de sua vacina, o autor deixa
claro que naquela época a estatística médica apenas engatinhava e, ante o
conhecimento que dispomos hoje na área, não apenas as conclusões e resultados
de Freire eram risíveis, mas o eram também os de muitos de seus
contemporâneos.
A
maior parte do livro é dedicado a Domingos Freire e sua obra, em especial sua
alegada descoberta do agente etiológico da febre amarela, ao qual deu o nome de
"criptococo xantogênico". Freire analisara ao microscópio diversas
amostras de secreções de pessoas falecidas por febre amarela e acreditava ter
conseguido isolar o agente causador. Hoje sabemos que o agente causador da febre
amarela é um vírus, mas naquela época, quando vírus era entendido como
veneno já que nem se concebia a possibilidade da existência de tal ser, no
limite entre o animado e o inanimado, havia uma grande corrida, entre os adeptos
da então nova medicina experimental e das idéias de Pasteur, para se encontrar
o dito agente etiológico. O "criptococo xantogênico" de Freire foi
motivo de celeuma. Muitos alegavam que não se provara se o tal criptococo era a
causa ou uma conseqüência da moléstia, ou seja, apareceria como um subproduto
nas secreções mórbidas.
Houve,
inclusive, uma acusação de que o tal agente etiológico nada mais seria do que
fruto do mau preparo da lâmina do microscópio. O pouco conhecimento dos
microrganismos que se tinha na época levou Freire a conceituar um ciclo de vida
do microrganismo, para explicar a incidência maior de febre amarela em
determinados lugares e épocas do ano, que tornavam sua teoria ainda menos
defensável.
A partir de sua crença de que havia descoberto o agente etiológico, tratou de
produzir uma vacina. Naquele período, e estamos falando de 1883, existia uma única
vacina aplicada a seres humanos: a antivariólica. Só em 1885 Pasteur
produziu sua vacina anti-rábica. Domingos Freire baseou-se nas idéias de
Pasteur para produzir um microrganismo com virulência atenuada, capaz de
provocar uma forma branda da doença, e com isso imunizar as pessoas. Em julho
de 1883, declarou ter conseguido tal intento. Daí passou a empreender
"campanhas de vacinação" que se estenderam por um bom tempo, até
1895. Segundo ele, era alto o índice de sucesso, reduzindo em muito a
mortalidade daqueles que haviam sido vacinados. Logo iniciou-se uma acalorada
polêmica. A começar pela identidade do tal criptococo xantogênico até a eficácia
da vacina, ou seu caráter nocivo como pretendiam muitos de seus
opositores.
Benchimol mapeia muito bem os elementos desta polêmica e em especial as reações
de Freire. Desrespeitando os ditames da Academia, o médico levou sua polêmica
para as ruas, em meio ao público leigo, tratando de atrair a atenção da opinião
pública para sua "descoberta". A pecha de charlatanismo adveio de uma
Academia ciosa de seu monopólio de conhecimento e da manutenção de certos parâmetros
de discussão científica interpares e para o grande público. Mais do que isso,
Freire considerava sua vacina uma espécie de salvação para o Brasil, ele que
era abolicionista e republicano e via se descortinar no horizonte uma regeneração
social do país, na qual sua vacina teria papel a cumprir. Ufanava-se de ter
sido um brasileiro o autor de tão importante descoberta.
A
princípio, sua vacina foi recebida com bons olhos, mas logo sua eficácia foi
posta em dúvida. A polêmica com seus pares não cessou e contra Freire e sua
vacina foram se alinhando poderosos inimigos, como João Batista de Lacerda, ele
próprio alegando ter descoberto o agente etiológico da febre amarela, distinto
daquele apontado por Freire. Benchimol analisa os trabalhos deste médico em
relação à febre amarela. Diferente de Freire, respeitoso dos limites da
Academia, Lacerda também defendia a etiologia da febre amarela como oriunda de
um microrganismo. Só que não o criptococo xantogênico, mas sim uma espécie
de fungo polimorfo. Além disso, considerava distante qualquer possibilidade de
se chegar a uma vacina contra a febre amarela.
Domingos
Freire foi cada vez mais relegado a uma posição de defesa exacerbada de sua
"descoberta". É possível que tenha padecido, nos últimos anos de
vida, de algum tipo de distúrbio psíquico que reforçou nele a sensação de
perseguição, uma espécie de quixotismo. Quando faleceu, em 1899, sua vacina e
seu criptococo estavam desacreditados pelos meios científicos. Outras
tentativas de se encontrar uma vacina, ou um soro antifebre amarela, continuavam
na agenda da pesquisa científica.
Isto
até 1900, quando, em Cuba, definiu-se o papel do mosquito como agente
transmissor, e hospedeiro intermediário, da febre amarela. Benchimol analisa em
detalhes esta descoberta, bem como sua relação com os trabalhos do médico
cubano Carlos Juan Finlay, datados de 1880-81. Esta ruptura na linha de pesquisa
em voga contra a febre amarela, e o sucesso obtido pelas medidas de prevenção
de contato com o mosquito e sua erradicação criaram um novo paradigma de
prevenção da febre amarela que não a vacinação, gerador de resultados
concretos e positivos. No Brasil, logo no começo do século XX, foi
implementada a política de erradicação dos focos dos mosquitos. Esta política,
levada a cabo por Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro, resultou na diminuição
significativa dos casos de febre amarela. A luta contra o presumido criptococo
xantogênico falhara, mas contra o mosquito transmissor estava dando resultados.
O livro de Jaime Benchimol é muito bem escrito e agradável na leitura. A
iconografia que traz é riquíssima e muito interessante, o que só melhora seu
trabalho. A única ressalva é a falta de um índice onomástico e de assuntos.
Diante de tantos personagens e assuntos importantes, tal tipo de classificação
ajudaria muito ao leitor. Esta pequena falha não diminui, de maneira alguma, a
importância deste trabalho, que revela uma história pouco conhecida. Uma história
de perdedores que ilumina nosso entendimento e nos dá uma visão mais ampla dos
caminhos e descaminhos da ciência e da medicina.
Fonte: Redação e Pesquisa efetuada por Maria Lucinda Coutinho de Arruda, se você tiver alguma informação sobre meus familiares, envie-me um email.