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ELOGIO EM 12 DE DEZEMBRO
JOSÉ FRANCISCO DE
MESQUITA, MARQUÊS DE BONFIM
Filho legitimo e segundo e abençoado
fructo do consorcio de Francisco José de Mesquita e de D. Joanna Francisca de
Mesquita, nasceu José Francisco de Mesquita á 11 de janeiro de 1790 no então
arraial de Congonhas, freguezia da nesse tempo Villa de Queluz, bispado de
Marianna, província de Minas-Geraes.
Erão seus Paes proprietarios honrados,
gozavão de estima e de consideração na província, e estavão no caso de
abrir-lhe esperançosos horizontes na vida, e tanto mais que logo
O optimo tio foi segundo pae do sobrinho,
fel-o aperfeiçoar-se nos estudos primarios, e apoiando suas naturaes disposições,
deixou-o seguir a carreira commercial, tendo em breve de applaudir-se do seu
acerto; porque no fim de poucos annos o jovem José Francisco de Mesquita gozava
na praça do Rio de Janeiro da mais segura garantia de futuro prospero e da mais
perenne fonte de riqueza, a confiança de todos.
O jovem Mesquita reunia as mais preciosas
condições do commerciante - actividade inexcedivel, prudencia de velho
experimentado, tino como instinctivo, economia, e tão reconhecida honradez, que
a sua simples palavra valia na praça commercial o credito das melhores firmas.
Completava essa harmonia de qualidades de
raro conjuncto sua perfeita e exclusiva dedicação á vida, e ao myster
commerciaes. Quando a família real portuguesa chegou ao Rio de janeiro, já o
jovem commerciante era conhecido por seu merecimento, e oito annos mais tarde não
foi alheio á subscripção espontanea do corpo do commercio, que D. João VI
destinou para a primitiva fundação da actual academia das bellas artes, e em
1818 concorreu para a creação do Banco do Brazil, banco de emissão, e
primeira instituição de credito desse genero fundada no Brazil. Além desses
prestou outros serviços, e recebeu em premio a commenda da Ordem de Christo,
graça que naquele tempo era signal de muito notavel distinção, e prova de
assignalada benemerencia, sendo conferida fóra do estreito circulo dos fidalgos
e cortezãos mais protegidos do rei.
Na memoria de José Francisco de Mesquita
não se apagárão nunca nem o proctetor, nem o solo natal; o nome do seu tio
foi por elle sempre lembrado com a mais viva gratidão até seus últimos dias
em 1872; o amor de sua provincia fel-o esquecer temporariamente seus grandes
interesses commerciaes para ir visital-a saudoso em 1817 e em 1821, merecendo
então ali manifestações de estima, e acolhimento fratenal do povo mineiro.
Em 1821 e 1822 o commendador Mesquita
pronunciou-se pela independencia da patria, pôs em contribuição da causa
santa as suas numerosas relações, o seu prestigio, os seus cabedaes já
consideráveis, e o imperador D. Pedro I teve em tão alta conta esses serviços,
que o nomeou seu - guarda roupa honorario, e deu-lhe o fôro de fidalgo
cavalleiro da imperial casa.
Creada a Caixa da Amotisação o
commendador Mesquita foi nomeado membro de sua direcção (e só por sua morte
deixou de sel-o) e tanto se mostrou dedicado no desempenho da patriotica,
onerosa, e utilíssima tarefa que o imperador D. Pedro I o graciou com a
officialato da Ordem Imperial do Cruzeiro.
No reinado do primeiro imperador, e no
periodo da menoridade do Senhor D. Pedro II, o commendador Mesquita foi sempre,
até o ultimo dia de sua vida monarchista constitucional, e homem da ordem; mas
por suas relações commerciais muito notavel influencia principalmente na província
de Minas-Geraes, apoiou em eleições candidatos á deputados e senadores sem
exclusiva distincção de partidos, honrando sempre o merecimento distincto,
embora por suas sympathias se approximasse mais do partido conservador.
Nesses tempos, como depois nos que correrão
até as vesperas dolorosas do seu passamento a sua casa foi freqüentada por
notabilidades políticas de todos os partidos, que alli achavão campo neutro e
seio tolerante e amigo.
Á medida que se volvião os annos
augmentava consideravelmente a riqueza do distincto mineiro, negociante de
natura vocação, de modo que no ultimo quartel de sua vida elle foi um dos mais
opulentos capitalistas e chefe de uma das casas mais collosaes da praça do Rio
de Janeiro. E quem estuda, cohece e aprecia bem as condições do commercio
desta capital admira sem duvida a prudencia, o tino, e a mestria desse
negociante brazileiro que soube engrandecer-se e impôr-se por connsumada
habilidade, e infatigavel dilligencia.
O commendador Mesquita chegara á
opulencia, envelhecendo no commercio; mas não desprezou jámais o potente
elemento de sua grande riqueza: quando falleceu, ainda era activa e das
principaes notabilidades da praça commercial do Rio de Janeiro. Nessa punjante
seára morreu tendo na mão o arado que lhe dera fortuna.
Mas elevado pela alavanca do trabalho
constante e honorificador, e auxiliado pela fortuna amiga o commendador Mesquita
soube realçar-se por benemerencia, que a sua modestia não poude conseguir
dissimular.
No reinado do Senhor D. Pedro II, de quem
elle foi o mais devotado amigo, os seus serviços á pátria, e á caridade
resplenderão continuamente.
O hospício de D. Pedro II começado e
adiantado por José Clemente Pereira, provedor da Santa Casa da Misericordia,
achou no commendador Mesquita piedoso concorredor de avultadas sommas.
Em 1842 por occasião das revoltas das
províncias de S. Paulo e de Minas-Geraes a sua bolsa abriu-se para acudir ás
despezas do Estado.
Na questão Christie, o enfezado e
prepotente ministro inglez, elle apressou-se á concorrer para as despezas do
armamento nacional, que se reputára necessário.
Para a elevação da estatua eqüestre á
D. Pedro I, o fundador do império, fez parte e foi thesoureiro da commissão
que tomára á peito o pagamento desse tributo de gratidão nacional, e
contribuiu notavelmente para o monumento que se ergueu.
O titulo de barão de Bom Fim, a nomeação
de veador honorario de S.M.A Imperatriz, com honras de grandeza, a commenda da
Imperial Ordem da Roza, um pouco mais tarde a dignitaria da mesma ordem, a elevação
de barão á visconde e depois de visconde á conde de Bom Fim forão
sucessivamente dando testemunho dos importantes e continuados serviços do
benemerito cidadão, sendo certo que cada uma dessas graças foi precedida
sempre por actos de patriotismo, ou de sentimentos humanitarios do agraciado.
A guerra do Paraguay abrio novo ensejo á
provas de civismo do conde de Bom Fim, e tanto elle concorreu em auxilio das
despezas do Estado, e quasi ao mesmo tempo contribuiu tanto para obras da Santa
Casa da Misericordia, que em attenção á esses e á outros serviços e aos de
quarenta e dous annos na Caixa da Amortisação, foi por decreto de 17 de Julho
de 1872 elevado de conde á marquez de Bom Fim.
Para essas honras e grandezas da terra
teve elle ainda outros títulos de subido valor. Quando mortifera epidemia ou
outra calamidade publica flagellarão algumas províncias de império, o
dedicado brazileiro nunca se esqueceu de que era rico capitalista, e foi propto
sempre á abrir a sua bolsa. Viuvas honestas e pobres, e orphãos desvalidos
freqüentemente experimentárão a sua caridade exercida sem ostentação.
Servindo constante á religião e á
humanidade, foi definidor, conselheiro de meza, e thesoureiro do Hospicio de
Pedro II na Santa Casa da Misericordia do Rio de Janeiro, na Capella Imperial
ocupou o cargo de mordomo, e conselheiro de meza, na igreja de Santa Rita os de
mezario e escrivão, e na Veneravel Ordem Terceira dos Minimos de S. Francisco
de Paula o de definidor perpetuo, merecendo ver em sua vida o seu retrato
ornamentado na vasta galeria dos bemfeitores da Santa Casa, e da Ordem Terceira
dos Mínimos.
Quando o mundo civilisado se commoveu ao
ver a assolação e as ruinas de provincias da França victima de sua ultima
guerra com a Allemanha, o marquez de Bom Fim foi no Rio de Janeiro o thesoureiro
da commissão que promoveu socorros para as familias francezas que ficárão
expostas á miserias e á fome, e tanto fez nesse empenho humanitario, e de sua
parte contribuiu tão generosamente que o Sr. Thier, então chefe do governo da
França conferiu ao distincto brazileiro o gráo de official da Legião de
Honra.
Pelo mesmo tempo o marquez de Bom Fim
igualmente subscreveu para os auxilios que a capital do imperio mandou para
Buenos-Ayres, onde reinava terrível a febre amarella.
Dispondo de grande riqueza, occupando
alta posição, tendo merecido honras e graças desde o ultimo reinado portuguez,
até o do Senhor D. Pedro II, que tanto o elevou, e que tratava com a maior
estima, o marquez de Bom Fim nunca se mostrou orgullhoso e altivo e foi sempre
de trato affavel para com todos que o procuravão, qualquer que fosse a posição
social e a fortuna de cada um.
Devidamente considerado pelos seus
concidadãos, o marquez de Bom Fim foi vereador da illustrissima camara
municipal da côrte, e constantemente eleitor da sua parochia, a de Santa Rita.
Elle foi tambem socio fundador do
Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, e socio bemfeitor da Imperial
Sociedade Amante da Instrucção.
Marquez, e grande do imperio ainda nas
vesperas de sua morte freqüentava com admiravel assiduidade em um octogenario o
seu escriptorio commercial e a Caixa da Amortisação.
Accomettido de grave enfermidade em fins
do mez de Novembro de 1872 o marquez de Bom Fim rendeu a alma ao Creador na
noite de 11 de Dezembro seguinte, contando oitenta e tres annos e onze meses de
idade.
Ás cinco horas da tarde do dia 12 foram
seus restos mortaes conduzidos em coche da Casa Inperial ao cemiterio de S.
Francisco de Paula, aonde baixárão á modesta sepultura, conforme recommendára
sua ultima vontade. Mais de duzentos carros em que ião muitos dos seus
numerosos amigos acompanhárão o venerando finado ao seu jazido.
O marquez do Bom Fim deixou em seu
testamento provas d'além tumulo da sua caridade e espírito religioso,
contemplando com importantes legados a Santa Casa da Misericordia do Rio de
Janeiro com os recolhimentos e instituições á ella inherentes, a Santa Casa
da capital de Minas-Geraes, as Ordens Terceiras de S. Francisco da Penitencia,
do Carmo, de S. Francisco de Paula, os hospitaes de Lazaros, os Institutos dos
Cegos e dos Surdos Mudos, álem de outros á muitos pobres, viuvas, orphãos do
municipio da côrte, e da provincia de Minas, onde nascera.
Macedo, Manoel Joaquim de, Anno
Biographico Brazileiro, Vol. 3, Rio de Janeiro, Tipographia e Litographia do
Imperial Instituto Artístico, 1870.
JOSÉ FRANCISCO DE MESQUITA, 11/01/1790 -
11/12/1872
Barão de Bonfim, 18/06/1841
Elevado a grandeza 15/11/1846
Visconde de Bonfim com Grandeza
02/12/1854
Conde de Bonfim 19/12/1866
Marquês de Bonfim 17/08/1872
Fonte: Redação e pesquisa elaborada pelo descendente do Barão, o Dr. Kenneth Henry Lionel Light. Caso você tenha mais informações adicionais, sobre nossos ancestrais escreva-nos um e-mail: khlight@attglobal.net. Grato.