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PROVÍNCIA
DE REZENDE
Em 1829, concebeu a câmara municipal
de Resende, uma idéia grandiosa que por ser arrojada e não terem sido
previstos os obstáculos que a deviam malograr, não teve o sucesso que estava
nos desígnios dessa corporação animada do mais elevado patriotismo e de
intuitos progressistas sem igual em outras municipalidades desse tempo.
(Dr. João de Azevedo Carneiro Maia /
1891)
A proclamação de nossa independência
política,em 1822,decorreu num ambiente inquietador,
a despeito da inexistência de demoradas lutas sangrentas.
A vinda de D.João VI,em 1808,e sua longa
permanência na colônia,elevada a vice-reino,obrigaram os governantes a umas
tantas medidas de ordem administrativa, que pouquíssimas e insignificantes
alterações sofreram após o grito de 7 de setembro.
Logo após esse acontecimento memorável,
os nossos estadistas tiveram o melhor de seus cuidados e atenções absorvidos
pelas medidas conjuratórias da precaríssima situação financeira e
consolidadoras da independência, ante visíveis dubiedades de D. Pedro I e as
manobras do governo português, não conformado inteiramente com a situação.
Este panorama não se alterou facilmente
e o advento de outros fatores perniciosos, surgidos com o decorrer dos anos,
encheram-no de cores mais sombrias, terminando pela abdicação forçada de
D.Pedro I.
O período da Regência foi caótico e
inquietador, chegando por vezes às margens da anarquia, e se não fora a
atividade enérgica de Feijó, talvez Pedro II não assumisse ao trono.
Não obstante, a sua ascensão não foi
absolutamente tranqüila e seu longo reinado, salpicado de motins, revoluções
e guerras, quase se escoou no estéril e morno movimento da gangorra dos
partidos liberal e conservador, sob o manejo do imperante. Veio a República,
mais preocupada com ideais e leis estranhas, do que propriamente com reformas práticas.
E até hoje,continuamos em boa parte,com
a absurda, a ilógica, incompreensível e caprichosa
divisão administrativa do
tempo das capitanias, quando o nosso território constituía verdadeiro
mistério.
Todavia, na época de nossa independência,
havia municípios pertencentes a três províncias, com cidades prósperas, que
mantinham íntimas relações comerciais entre si.
Eram elas: Resende, Valença, Parati,
S.João Príncipe e Ilha Grande, na província do Rio de Janeiro; Campanha e
Baependi, na de Minas Gerais, e Areias, Lorena, Cunha e Guaratinguetá, na de São
Paulo.
Além das relações comerciais e
facilidades de transporte, de acordo com os recursos da época, tais cidades
estavam intimamente ligadas por laços
de parentesco de seus habitantes e também,inspiradas no interesse comum desses
municípios,que como o de Resende, sofriam amargamente,
tendo de percorrer grandes distâncias e péssimos
caminhos para irem às capitais respectivas em demanda de recursos atinentes a
suas necessidades e melhoramentos.
Aliás para esta área do curso médio
do Paraíba, que se tornará o centro da maior riqueza do Império, confluem três
movimentos simultâneos: a expansão paulista, que invadirá territórios que
embora desocupados, pertenciam a província do Rio de Janeiro; o que vem de
Minas Gerais descendo para o sul, e o que vem do Rio de Janeiro para o interior
da capitania.Os três se reunirão aí,e embora formada de trechos de províncias
diferentes, a região terá características tão peculiares
e próprias que se cogitará um
momento de formar com ela uma província à parte.
(Caio Prado Júnior)
Todos esses liames, os interesses e
aspirações comuns,as dificuldades para entendimentos com os presidentes das
respectivas províncias,geraram no espírito de muitos a grande conveniência da
organização, com os citados municípios,de uma nova província destacada das
de São Paulo, Rio e Minas.
A idéia não tardou a ser aceita com
entusiasmo pela melhor gente de tais cidades, transformando-se numa verdadeira
aspiração da maioria de seus habitantes.
Houve entendimentos entre
representantes dos vários municípios, no intuito
de tornar realidade esta aspiração de seus munícipes, pois existiam
pequenas dúvidas e ligeiras rivalidades, oriundas
de interesses
locais específicos que
acabariam sendo resolvidas a
contento geral.
Entretanto, em Baependi, quartel general
dos Nogueiras, exigia-se as honras de
capital da nova província.Contudo, Resende também almejava esta primazia e tal
pretensão era justificada pela sua melhor posição geográfica em relação ao
plano proposto. Outrossim, não se chegava a um acordo
a respeito da denominação da nova província.
Estava a questão neste pé, quando o
impetuoso vereador da câmara municipal de Resende, o padre José Marques da
Motta, inabilmente precipitou os
acontecimentos, fechando questão quanto a capital e o nome da nova província
que deveria adotar a mesma denominação da então vila de Rezende.
O gesto intempestivo do padre,provocou
azedas discussões, discordâncias e posicionamentos bairristas entre os outros
municípios,sobretudo Baependi, tendo havido em função disso, uma retroação
nas negociações, até então já consumadas.
As agitações que se desenrolavam na
Corte, repercutiam nas províncias, também intranqüilas, e de 29 em diante, a
marcha dos acontecimentos precipitou-se até a abdicação.
A abdicação, o tumultuoso período
regencial, a guerra de 42, foram emprestando um outro aspecto às
excogitações do povo, contribuindo para arrefecer o entusiasmo dos
partidários da nova província e nunca mais veio à tona semelhante idéia.
Outro seria, talvez, o resultado daquele
convite, se a questão da capital ficasse para ser resolvida posteriormente,
mediante um acordo tentado com a devida prudência.
Íntegra
do teor do ofício dirigido pela Câmara de Resende aos municípios
convencionados :
ILMOS.SRS. Vereadores da Câmara de...
A Câmara municipal da vila de Resende,
considerando muito refletidamente o estado atual da mesma vila e suas
circunvizinhanças e, consultando a este respeito pessoas entendidas e bem
intencionadas, foi obrigada a reconhecer:
1º -
Que o vagaroso progresso da sua indústria, da sua civilização e as
efetividade de seus direitos públicos e individuais estabelecidos na constituição
não correspondem de modo algum, à riqueza de suas produções,facilidade de
sua exportação e boas disposições de seus habitantes.
2º -
Que este estacionamento humilhante
à face do progresso
de outros
povos do Brasil, procede dos
obstáculos que as distâncias opõem à ação administrativa tornando-a umas
vezes fraca, outras demasiado rigorosa, e quase sempre, tardia e pouco
previdente.
3º - Que, sendo a distância da
autoridade administrativa a causa constante dos males indicados, o encurtar esta
distância é meio indispensável para remediá-los.
Conquanto tenha a câmara desta vila por
sagrado dever o promover a prosperidade dela, não pode
separá-lo dos sentimentos
de nacionalidade que a
prendem a todo o Império e a cada uma de suas partes e está convencida de que
a prosperidade de uma povoação só
pode caminhar a par de suas vizinhanças. Considerando, finalmente, que não
só algumas
vilas desta
província, como outras de São Paulo e
de Minas Gerais, sentem as
mesmas necessidades, concebeu o projeto
de requerer a criação de uma nova província que
pode ter por capital esta vila e
por distritos as que vão mencionadas na tabela anexa.
Tomando esta câmara semelhante
iniciativa, porque era necessário que alguém a tivesse, de nenhum modo
prosseguiria em tal projeto sem primeiramente ouvir o parecer
e obter o consentimento das
municipalidades interessadas, motivo porque se dirige a todas, interrogando suas
luzes e consultando suas vontades.
Indicando esta vila para capital da nova
província, espera esta câmara não poder ser argüida de
parcialidade, quando sua posição central a está indicando como a mais
apropriada; desde que se mostrem maiores vantagens em outro lugar, nenhuma dúvida
porá esta câmara em mudar de opinião, visto que seus desejos são sempre
inspirados pelo bem do maior número.
Roga-se,portanto, a V.Sas. queiram tomar
na devida consideração a presente proposta
para, de comum acordo, dirigir-se ao corpo legislativo a
necessária representação.
Resende, 4 de novembro de 1829
Joaquim Pereira de Escobar José
Marques da Motta Bento de Azevedo Maia
Fabiano Pereira Barretto Antônio
Luiz Gonçalves Viana João Lourenço Guimarães
Francisco do Carmo Froes.
Tabela Anexa :
Rio de Janeiro : São João Príncipe,
Valença, Ilha Grande e Parati
São Paulo : Areias, Lorena, Guaratinguetá,
e Cunha
Minas Gerais : Baependi e Campanha
Bibliografia
:
Fonte:
Matéria enviada por:
José Eduardo de
Oliveira Bruno - SP, junho de
2004.
E-mail: jeobruno@uol.com.br e ou/ jeobruno@hotmail.com