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História de Visconde de Mauá
Mais
conhecido como Mauá, este lindo recanto da serra da Mantiqueira , localizado na
região do Maciço do Itatiaia,descortinando-se para as majestosas e sublimes
Agulhas Negras, teve como cenário, no final do século XIX e início do século
XX, núcleos de colonização de imigrantes europeus, como precursores de seu
povoamento.
"A
idéia do aproveitamento destas terras para formação de núcleos coloniais
surgiu,pela primeira vez, à época da especulação financeira no início da
República. Num breve período, que vai de
Foi
neste clima que o Com. Henrique Irineu de Souza, filho e herdeiro do Visconde de
Mauá, obteve por contrato, permissão para instalar dois núcleos coloniais em
suas terras: os núcleos "Visconde de Mauá"(no vale do Rio Preto) e
"Itatiaia"(no vale do Rio Campo Belo). O contrato entra em vigor em
1889, estipulando que o governo seria o responsável pela introdução e
transporte dos colonos, comprometendo-se em construir estradas e indenizar o
proprietário pelos gastos feitos na instalação dos núcleos e sustento provisório
dos imigrantes.As previsões eram bastante pretensiosas e falavam em receber
cerca de quinhentas a mil famílias de colonos."(1)
No
entanto, hoje em dia, poucos sabem quem foi Henrique Irineu de Souza, filho do
Barão e depois, Visconde de Mauá, Irineu Evangelista de Souza.
Henrique,
foi o pioneiro em realizar um empreendimento de colônias agrícolas, naquela
região serrana. Sua vasta propriedade compreendia em extensão, da Pedra Selada
até os contrafortes da serra do Maromba. Possuía três grandes fazendas - 1-
Fazenda Central do Rio Preto, no vale do Rio Preto, que era centro
administrativo ; 2- Fazenda do Mont Serrat, que ficava do outro lado do
Itatiaia, na vertente que dá para a antigo distrito de Campo Belo, atual município
de Itatiaia; 3- Fazenda Queijaria, Rio Preto abaixo, onde se cuidava da indústria
de laticínios. (2)
Desejava
transformar, aquela até então inóspita região montanhosa, em um rico celeiro
de produtos originários das zonas temperadas e frias - cereais e alienígenas
frutas e em risonhos campos que se povoassem de gado de finas raças. Núcleos
coloniais de italianos,principalmente, recém-chegados, foram fundados com
grandes investimentos , um no vale do Rio Preto e o outro
no
Monte Serrat. Todavia,o que realmente deu resultados positivos foi o setor de
laticínios que a esse tempo fabricava o famoso queijo tipo "Chester"
que tinha muita procura nas grandes confeitarias do Rio de Janeiro.
Henrique
Irineu de Souza,filho do grande empresário e capitalista Visconde de Mauá,
sentiase,talvez,obrigado por atavismo, a ser também, um grande empreendedor.
Seu
pai,nascido em 1813 no Rio Grande do Sul, foi aos 12 anos de idade, levado para
o Rio de Janeiro,por um tio seu, num navio abarrotado de charque, farinha de
trigo e couros, viagem que na ocasião despendia mais de um mês.(3)
Chegando
ao Rio,começou a trabalhar de caixeiro, ora arrumando mercadorias ou varrendo o
lixo,ora fazendo pequenos serviços ou atendendo prontamente os pedidos dos
funcionários mais antigos , sempre procurando aprender os segredos da profissão.
À noite, discretamente, para não provocar ciúmes e invejas, à luz de velas
,estudava contabilidade, gramática e francês, o que lhe permitiria mais tarde
devorar os escritos de Jean-Baptiste Say, autor da clássica "Lei de Say",
um aplicado discípulo de Adam Smith, que via as relações econômicas pela ótica
do pleno liberalismo dos mercados. Trabalhava sete dias por semana . Nas
escassas horas de folga, se não estava aprendendo alguma coisa, engraxava botas
dos colegas para engordar o esquálido salário de 50 réis mensais.
No
entanto, a ascensão foi rápida, e aos 14 anos já conhecia na intimidade ,a
contabilidade e os segredos da administração. Em 1833 ficou sócio da
importante casa comercial Ricardo Carruthers, que tendo que partir para
Europa,lhe confiou a administração. Mauá desenvolveu e elevou aquela empresa
à liderança no mercado.Em 1841,casou-se e logo após fundou uma filial daquela
casa comercial no Rio Grande do Sul. Em 1846,comprou a fundição e estaleiro da
Ponta da Praia, no Rio e o transformou no maior estaleiro da América do Sul. Em
1847, organizou a Companhia Rio-Grandense de Reboques a Vapor, que melhorou
extraordinariamente os serviços marítimos da Barra. Colaborou na elaboração
do nosso Código Comercial que até hoje está em vigência.
Em
1851, no Banco do Brasil, no qual foi o organizador e fundador,que acabaria
tendo o governo como seu maior acionista,antecessor do Banco Mauá & Cia.,
revolucionou o crédito à produção, emitindo moeda que circulava livremente e
exibia vasta rede de agências distribuídas pela Argentina e Uruguai, mais inúmeros
negócios no exterior, inclusive Londres.
Criou
a Companhia de Iluminação a Gás do Rio de Janeiro;fundou a primeira estrada
de ferro do Brasil, que foi a Estrada de Ferro Rio-Petrópolis; A Cia. de Navegação
e Comércio do Amazonas e a dos Diques Flutuantes. Criou a Estrada de Ferro
Pedro II, depois Central do Brasil, cujo primeiro trecho foi inaugurado a 30 de
abril de 1854, estrada essa que foi a primeira ligação ferroviária entre as
duas maiores cidades do país,o Rio e São Paulo.Também, foi o idealizador e o
empreendedor da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí,a menina de seus olhos,que ele
bancou até o dia da inauguração.
Fundou
a notável Casa-Bancária Mauá Mac Gregor & Comp., no Rio de Janeiro; o
Banco Mauá de Montevidéu no Uruguai e também,. várias casas comerciais da
maior importância
Demonstrava
grande perseverança e coerência em seus propósitos. Personificava a figura do
administrador austero, extremamente cuidadoso com os capitais de terceiros, dos
quais administrava, e era incapaz de esbanjar dinheiro com gastos de viagens,
subvenções ou suborno.
O
desprendimento não o impedia de colecionar uma vitória após a outra. Iluminou
e abasteceu de água a cidade do Rio de Janeiro, rasgou estradas e intermediou
empréstimos para a implantação das primeiras redes ferroviárias em nosso país.Ergueu
a primeira siderúrgica do país. Dedicou-se com tamanho ímpeto à democratização
do capital que antecipou o advento das sociedades por ações,base do moderno
empreendimento capitalista que só neste fim de século,com as privatizações,
está revolucionando a eficiência e a competitividade das empresas no Brasil e
na América Latina de um modo geral.
Todavia,
ninguém deu ouvidos às queixas do Barão quanto à belicosa política imperial
brasileira no Prata. Preocupava-se com a confrontação fronteiriça, rompendo
com o passado intervencionista e acenava com as vantagens da integração econômica.
O Mercosul existia na sua cabeça
mais
de um século antes de virar um tratado assinado por Sarney e Alfonsín.
Em
1860,os agraristas já dispunham do poder e o café caía nas graças dos
formuladores da política econômica. O enfrentamento entre eles e o então
solitário industrialista iria reverberar ao longo de toda a década, com nítida
vantagem para os agraristas, devido ao recrudescimento da importância da
cafeicultura na economia brasileira.
Outrossim
a política econômica pendia para o estatismo e os juros altos. Ele queria puxá-la
para a órbita dos juros baixos e privatista. O governo imperial estatizara o
Banco do Brasil, mas este não saia do lugar. Dizia : "O banco funciona
como uma caixa de descontos, e realiza esta operacão pela taxa mais alta que
consegue obter." Portanto, não democratizava os empréstimos, nem reduzia
custos. Fazia o que os bancos europeus abominavam: maximizava os lucros e
restringia
o
crédito. Mauá queria ocupar o espaço vazio e fazer o dinheiro circular,
gerando riquezas.
Tão
grande quanto a fortuna que construíra era a animosidade que despertava, a começar
pelo Imperador D.Pedro II, seu vizinho no aristocrático de então,bairro de São
Cristóvão. Não por acaso sua majestade costumava espionar com uma possante
luneta, aquele surpreendente rival plebeu, descrito pela Enciclopédia Britânica
como "o ilustre homem que trouxe a civilização até
a
selva do Amazonas."
Também
dizia : "Desgraçadamente entre nós entende-se que os empresários devem
perder,para que o negócio seja bom para o Estado, quando é justamente o contrário."
Teria
sido este o seu erro ?
Faliu
em 1878 e se reabilitou em 1884, e ao falecer em Petrópolis a 21 de outubro de
1889, deixava à pátria um nome que foi um exemplo de iniciativa empresarial e
de força de vontade, aliada a uma grande e culta inteligência, servida por sua
vez por uma admirável capacidade de trabalho.
Contudo,seu
filho não teve a mesma sorte nos empreendimentos que realizara,pois a sua
grande empreitada nos contrafortes da Mantiqueira, não logrou sucesso, tendo
como resultado um retumbante fracasso.
Conforme
menciona Renato Jardim em seu livro :Reminiscências: "O velho Domingos
Fortes, respeitável e estimado negociante em Resende, correspondente comercial
que era do comendador Henrique, conhecedor do que se operava lá na 'Serra', aos
lamentosos insucessos costumava referir-se ,compungido, denominando-os: - 'as
diabruras do seu Henrique'.(4)
Os
interesses nesta experiência inicial foram especulativos e políticos. No
primeiro caso, beneficiando o proprietário das terras; no segundo, atendendo
aos anseios do Governo. Segundo os documentos existentes, nesta época os núcleos
chegaram a possuir cerca de 185 colonos, dentre austríacos e italianos, vindos
a partir do dia 7 de abril de 1889.Experimentou-se a cultura de bata- tas, feijão,
milho, horticultura, frutas em geral (sobretudo uvas e maçãs),tentando-se a
fabricação
Conforme
mencionou o prof.Mendes da Rocha no seu livro , "Imigrantes em
Resende":
"No
final de
Continuando
Renato Jardim :"E lá ficou a 'Serra'- como chamado aquela região - sem
inovações nem inovadores.Cerca de quinze anos após,no governo presidencial do
fluminense Nilo Peçanha, o ministro Rodolfo Miranda, empreendeu ali uma
colonização com alemães e suíços o que igualmente fracassou." (5)
Os
imigrantes alemães vieram para o Núcleo Colonial Visconde de Mauá entre 1908
e 1916.
A
política de colonização brasileira pretendia introduzir europeus, não para
estabelecê-los nas grandes fazendas, mas nos chamados 'Núcleos Coloniais', que
eram centros organizados em pequenos lotes de terras com o objetivo de realizar
uma razoável produção de alimentos para
Os
núcleos coloniais "Visconde de Mauá" e "Itatiaia"
funcionaram, sob subvenção do Governo Federal, de dezembro de
O
Núcleo Mauá deveria ser um centro agropecuário, com base na pequena
propriedade e trabalhado pela família imigrante.Neste centro, em virtude das
'características locais', priorizava-se a produção de frutas européias,
cereais,tubérculos e a criação de bovinos originários de clima temperado.
Porém, a prática destas idéias, no contexto do núcleo, mostrou-se
desastrosa.
Dessa
forma, após a emancipação da colônia, a produção que não atingira as
expectativas da política de colonização, tampouco os anseios dos imigrantes,
decaiu verticalmente.
Com
o fracasso da colônia e suspensão de todo o apoio oficial, os imigrantes que
insistiram em permanecer na região, iniciaram uma outra atividade,
aproveitando-se do clima europeu e dos belos e panorâmicos acessos ao Pico das
Agulhas Negras, para se dedicarem ao turismo.
Visconde de Mauá é hoje uma importante região turística do Estado do Rio de Janeiro. Montanhas, baixas temperaturas e pequenos vales lembram o que encontramos na Europa, mais precisamente na região dos Alpes Europeus.
Notas Bibliográficas :
(2)"Itatyáia" - Ascensão às Agulhas Negras -de Horácio de Carvalho-( Laemmert & C.Editores- Rio de Janeiro / 1900)
(*) A título de esclarecimento, quanto ao topônimo Itatiaia,decompõe-se em ITA = pedra ; TI por TIB= muitas, abundância e AI = por si "Pedras que se Multiplicam por Si"
(3)
Irineu Evangelista de Souza (Barão e Visconde de Mauá) Nascido
(4) Renato Jardim autor de "Reminiscências"-de Resende ,Estado do Rio às plagas paulistas de São Simão, Batatais, Altinópolis e Ribeirão Preto (Livraria José Olympio Editora - São Paulo/1946)
(5) Rodolfo Miranda ( filho do Barão do Bananal, Luiz da Rocha Miranda Sobrinho, que foi o primeiro filho de Resende a ser agraciado com um título nobiliárquico, e tem o seu nome denominando uma rua de Resende que liga o antigo Paço Municipal à Praça do Centenário )
Fonte:
Matéria enviada por:
José Eduardo de
Oliveira Bruno - SP, junho de
2004.
E-mail: jeobruno@uol.com.br e ou/ jeobruno@hotmail.com