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Homenagens à
José Ezequiel Freire de Lima
LITERATURA - Nestes três lustros, não tivemos nenhuma revelação nos domínios da literatura em geral, ou na poesia. O meio, ainda acanhado, não propiciou a eclosão de algum talento que pudesse enobrecer os nossos fóros de cultura. Tivemos, todavia, a glória de escolher, em nosso meio, um dos maiores e mais consagrados poetas brasileiros - Ezequiel Freire. Ligado por parentesco a ilustres caçapavenses. Ezequiel Freire, informado da excelência do clima de Caçapava, resolveu fazer aqui um vilegiatura, fugindo do bulício e sofreguidão das grandes urbes, para um contacto mais direto com a natureza, gloriosa e fecunda fonte de suas inspirações. Aqui, bem perto dela, encontrou o remanso desejado para um viver tranquilo e, ao mesmo tempo, um lenitivo para os males do corpo. Identificado com o meio, foi, para logo, rodeado de atençoes e afeto. era com justificado orgulho que acolhíamos em nosso modesto ambiente social, tão esplendente flor da raça, já consagrado, por Machado de Assis e Valentim Magalhães, como um dos nossos maiores poetas.
Não mais quiseram os fados que a sua permanência, entre os vivos, fosse duradoura. E a morte o chamou naquele infausto dia 14 de novembro de 1891. Numa como antevisão do trespasse, endereçou aos amigos ausentes, datando-o do dia dos mortos, uma mensagem de de saudade e de fé. Num cartão preto escreveu, em letras brancas, esta locução rimada:
"Por
conta de maior quantia
Reze por êle
Pater Noster & Ave Maria!"
pag.123
EZEQUIEL FREIRE - Ao tratarmos de literatura no § 6º do capítulo II desta 3ª parte, fizemos rápida menção da estadia em nossa cidade, do grande poeta brasileiro - Ezequiel Freire, cujos restos mortais repousam em nosso Campo Santo.
Voltamos agora a falar, com a mesma reverência de sempre, sobre a inconfundível personalidade do inesquecível cantor das harmonias de nossa natureza.
Transcorrendo aos 10 de abril de 1950 o centenário do nascimento de Ezequiel Freire, a Câmara Municipal e a Prefeitura de Caçapava se associaram à ilustre família do grande poeta, nas comemorações que foram levadas a efeito naquela data centenária. Assim é que, no dia 10 do referido mês, pelas dez horas, fez-se uma romaria ao túmulo do consagrado poeta, o qual se apresentava lindamente ornamentado de flores. Ali, na presença das autoridades locais, de membros da família Freire, entre os quais os drs. Mário Freire e Alfredo Freire, filhos do poeta, estudantes e grande número de pessoas de destaque social,orou o Dr. Aldemar de Moura Resende, prefeito municipal, que ao encerrar a sua oração, comunicou que a Municipalidade havia mandado confeccionar uma placa de bronze, para ser colocada no mausoléu do grande poeta, contendo os dizeres seguintes: "A Ezequiel Freire, fulgurante cantor da terra brasileira, a Municipalidade caçapavense, no centenário do seu nascimento (10-04-1850 - 10-04-195-).
Em seguida proferiu eloquente discurso, representando a Câmara Municipal, o Dr. Antonio Pereira Bueno, que exaltou a grande personalidade de Ezequiel Freire, traçando-lhe a biografia, em rápidas pinceladas.
Foi um verdadeiro preito de homenagem que os representantes do povo de Caçapava prestaram ao grande brasileiro, cujas cinzas guardamos com carinho e veneração.
Pedimos vênia ao ilustre poeta Francisco Pati para transcrever neste modesto livro de recordações o mimoso sôneto, que consagrou ao túmulo do poeta:
"TUMULO
DE EZEQUIEL FREIRE
CAÇAPAVA
Contam
que sobre o túmulo do Poeta,
na cidade que tanto lhe queria,
qual se fosse uma lágrima discreta,
brilha uma gota de água, noite e dia.
A
humanidade sofredora e inquieta
Vem de longe enxuga-la, em romaria,
Mas sob a luz que do alto se projeta
Ela renasce cristalina e fria.
E
a alma do Poeta, benfazeja e pura,
Que, descendo dos paramos dispersos,
A brilhar sobre a própria sepultura,
dá prestigio de lenda ao Campo-Santo...
- Já que não pode desfazer-se em versos,
a alma do Poeta se desfaz em pranto.
Francisco Pati"
Para encerrar estes apontamentos, pondo aqui um pouco da alma do grande vate, transcrevo a seguinte poesia:
"ROMAGEM
ROMEIRO
errante no deserto intérmino
sigo a miragem, que minh'alma adora
e o olhar, cançado de buscar-te embalde,
langue e desmaia por te ver, senhora.
E
vou caminho da extensão dos páramos,
rasgando as vagas do areal sem fim,
- soltas as velas ao batel da esp'rança,
- firme na crença de te achar por fim.
Da
vida o encanto se desmancha em máguas
e a dor enluta o coraç´~ao sem ti,
- dá-me um carinho p'ra que eu viva ainda,
- mostra-me o Eden, feiticeira huri.
Não
vês? - Da selva o sabiá deserta,
das lindas veigas o matiz descora
e os mesmos lutos, que levara o ocaso,
voltam de novo quando volta a aurora.
No
bosque aos gelos do hiemal bafejo
calam gorgeios de gentis cantores;
as flores - fogem dos jardins viuvos
e o aroma - esvai-se no fanar das flores.
Do
lar silente, que te espera ainda,
foge um sorriso, que morava ali...
e os olhos tristes que o penar sobrea
choram, querida, sem cessar - por ti.
E
vai minh'alma, na eternal romagem,
seguindo a imagem que avistou nos céus;
tem um farol - a claridão dos astros,
um guia - a esperança, uma esperança - em Deus!
......................................................................................
Além,
sòzinho o sabiá das veigas
soluça a nota da conção de dores,
- as flores fogem dos jardins viuvos
- e o aroma esvai-se no fanar das flores.
E
o sol se enroupa no esplendor d'aurora
e vai do ocaso se abismar nos véus;
só eu - perdido na eternal romagem -
sigo-te, imagem, que avistei nos céus.
Ezequiel Freire".
Fonte: Trecho retirado do Livro: "CAÇAPAVA apontamentos históricos e genealógicos". Edição comemorativa do 1º centenário do Município de Caçapava/SP. (por Benedicto Alípio Bastos). pg. 220 à 222.