|
Biografia de
Luís Felipe Freire de Aguiar
Água inglesa modificada Água inglesa modificada Água inglesa modificada
O proprietário da primeira indústria farmacêutica do Brasil, foi o
carioca Luís Felipe Freire de Aguiar. Iniciou seu curso de farmácia em
1869 na Faculdade Nacional de Medicina no Rio de Janeiro, onde logo
manifestou decidida vocação e se formou em 1871. Serviu durante o
curso no Hospital da Marinha como auxiliar de laboratório, passando
depois a ocupar o lugar de segundo farmacêutico. Deixou o posto em
1874, para ter a sua farmácia no antigo Largo de Santa Rita.
Associou-se a Farmácia Episcopal, a mais antiga das farmácias do Rio
de Janeiro, onde começou a trabalhar em prol da farmácia brasileira.
Em 1877 tornou-se proprietário da Farmácia Episcopal. Devido a vontade
de se dedicar exclusivamente a manipulação de alguns preparados
especiais de sua composição, que começavam a ganhar confiança,
Freire de Aguiar, vendeu a Farmácia Episcopal para montar um laboratório
para produzir remédios e perfumaria.
O
grande inimigo do aproveitamento das plantas medicinais brasileiras,
eram os remédios importados e o preconceito dos governantes e da população
quanto a sua qualidade e a eficiência. Como ainda hoje, "o que é
importado é melhor". Logo no início, a indústria de Freire de
Aguiar, teve de sustentar uma disputa judicial com uma fábrica de
produtos medicinais, estrangeira, pois manipulava um produto de fórmula
conhecida, e com o nome comercial de "Água Inglesa". No
Brasil a distribuição deste remédio era feito pela poderosa
"Sociedade União dos Fabricantes Franceses". A Água Inglesa
ou da Inglaterra, era um vinho de quina, muito usada como tônico e
antiespasmódico. Até 1888 este produto no Brasil era considerada um
segredo da família de André Lopes Castro, português, porém sua fórmula
já fora escrita na Farmacopéia Tubalense, editada em 1760. Freire de
Aguiar estudou vários vegetais da nossa flora, e conseguiu elaborar uma
fórmula mais honesta e cientificamente perfeita e obteve a aprovação
da sua Água Inglesa modificada. Para que o farmacêutico brasileiro
conseguisse comercializar o seu produto precisa de uma autorização da
Inspetoria de Higiene, responsável pela qualidade dos medicamentos
comercializados no país. Em 20 de outubro de 1888 a Inspetoria Geral de
Higiene, expediu uma circular aos seus inspetores de higiene provinciais
e aos droguistas declarando: "Que a Água Inglesa julgada por esta
inspetoria como a mais adequada a índole dos formulários brasileiros,
é a do farmacêutico Freire de Aguiar." Foi o que bastou para que
a distribuidora francesa reagisse.
A Sociedade União de Fabricantes Franceses, julgou-se prejudicada em
seus interesses no Brasil, e entrou com processo judicial no foro de
Ouro Preto contra Freire de Aguiar. O farmacêutico brasileiro, sem
nenhum auxílio, teve que arcar com todas as despesas dos processos. Na
Farmacopéia Brasileira de Rodopho Albino,1926,na página 979 a Água
Inglesa tem a sua formulação registrada. Porém é melhor explicada
através de um anúncio do Laboratório Silva Araújo publicado em 1936
na Revista da Associação Brasileira de Farmácia: "A Água
Inglesa é fórmula excelente e clássica que todos os fabricantes de
produtos farmacêuticos se vêem na obrigação de preparar,
apresentando-a com pequenas variantes e peculiaridades, embora contendo
os mesmos componentes primordiais: a quinina, o álcool, plantas de
propriedades tônicas e anti-febris. A Água Inglesa é um aperiente,
febrífugo e tônico bem indicado nas doenças febris arrastadas, nas
anemias e nas convalescenças de doenças infecciosas e febris."
Hoje o produto de marca Água Inglesa é de fabricação do Laboratório
Catarinense e indicado pelo laboratório para a lactação. Pelos dados
transcritos podemos assegurar que este é um medicamento fitoterápico
tradicional no país. Mesmo em se considerando as possíveis variações
na formulação original. Depois de vencer todas as batalhas pela sua
"Água Inglesa modificada", Freire de Aguiar voltou ao Rio de
Janeiro e fundou um outro laboratório na rua General Câmara, mais
tarde mudou seu estabelecimento para a rua Conde de Bomfim.
Neste novo estabelecimento cedeu ao insistente convite do seu colega e
amigo farmacêutico Paulo Barreto e organizou, em 1890 a "Companhia
Química Industrial da Flora Brasileira", da qual ficou apenas com
o cargo de técnico. Em pouco tempo, dois anos, Freire de Aguiar viu o
seu bem montado estabelecimento pedir falência. Nesta época sua indústria
já tinha cem produtos, sendo muitos da flora nacional e outros de matéria
prima estrangeira. Numa série de artigos publicados em jornais no Rio
de Janeiro, moveu honesta campanha contra produtos falsificados,
nacionais e estrangeiros. Tinha por hábito exibir farta documentação
provando suas afirmações. Em análises realizadas nos laboratórios
oficiais, e pessoalmente, provava a inequidade de vários produtos
importados, entre os quais o Elixir Alimentício de Ducro, que não
continha nenhuma substância alimentar. Chapoteaut, farmacêutico francês,
fabricou um preparado em que deveria entrar a pepiona; pelo exame
realizado por Freire de Aguiar, na presença de médicos, farmacêuticos
e jornalistas, provou que o elixir, que chegava as prateleiras das
nossas farmácias, não possuía nem sombra de carne. Em outra ocasião
em sua farmácia, uma senhora pediu um vidro de xarope de Forget.
Momentos depois, essa senhora voltou muito aflita, porque sua filha
estava envenenada. Examinando o medicamento, verificou que continha alta
dose de cloridrato de morfina. Não deixou de comentar o ocorrido com as
autoridades da Inspetoria de Higiene e tão pouco voltou a comprar o
dito remédio importado.
Em 17 de outubro de 1903, com grande alarde social, Freire de Aguiar,
inaugurou na rua Senador Euzébio a sua fábrica de produtos extraídos
da hulha. Nesta ocasião o Dr Luís Felipe não deixou por menos e
realizou a vista dos presentes uma experiência interessante: Em um tubo
de vidro, de 15 litros, colocou algumas larvas de mosquitos, derramou
algumas gotas do produto de sua fabricação o Phenogeno. Imediatamente
as larvas morreram, ficando provado a grande importância do produto na
desinfecção de águas estagnadas e depósitos de água, onde se
desenvolvem as larvas dos mosquitos, que transmitem doenças como a
febre amarela. Os desinfetantes obtidos da destilação de hulha, muito
auxiliaram no combate a várias epidemias, principalmente a do Maranhão,
em que o Phenogeno, cujo preço era inferior ao fenol, auxiliou a
debelar o surto de peste bubônica.
Freire de Aguiar inventou e patenteou um aparelho a que denominou de
"Simplex", para ser adaptado as caixas de descarga dos vasos
sanitários, lançando em cada descarga a dose exata de desinfetante.
Também planejou e executou dispositivos para a desinfecção de
banheiros públicos e carroças de lixo. Nem com todos estes benefícios
sociais viabilizados pelos seus produtos, deixou o Dr Luís Felipe de
ter mais uma questão judicial, e desta vez com o inglês, Ed William
Person com relação a marca da Creolina, pois o autor da "Creolina
Pearson", entendia que nenhum outro fabricante poderia usar o
referido nome que o industrial britânico havia patenteado. Freire de
Aguiar teve que provar que o nome "Creolina" era genérico,
encontrando-se em diferentes formulários e o supremo tribunal
brasileiro, determinou que a Creolina brasileira poderia se chamar
"Creolina Freire de Aguiar", ficando proibido aos demais
fabricantes nacionais o uso deste.
Todos os seus produtos, entre os quais Água Inglesa, Xarope de Rabano
iodado, Elixir Alimentício, Magnésia fluida, entre outros, tinham ótimo
conceito na classe médica e o elixir de Jurubeba, mereceu do Dr.
Domingos Freire, um parecer honroso, pois conseguiu regularizar de modo
científico a preparação de Jurubeba que sempre tinha irregularidade
no preparo. No governo de Prudente de Morais, sendo ministro da fazenda,
Bernardino de Campos, (1897), Freire de Aguiar manifestou-se, pedindo
proteção para a indústria farmacêutica nacional, que nesta época não
tinha um número significativo de estabelecimentos. A primeira Magnésia
fluida fabricada no Brasil foi de autoria de Freire de Aguiar, ao tempo
em que a única existente no mercado era a de Dinnefori, francesa. Suas
incansáveis campanhas contra produtos estrangeiros, provocou severa
fiscalização das autoridades sanitárias, e isso fez com que muitas
destas fábricas se instalassem no Brasil. Entre estas a fabricante da
Magnésia Fluida de Murray. A indústria farmacêutica de Freire de
Aguiar foi uma das primeiras a se interessar em fabricar extratos
fluidos, principalmente de plantas nacionais, sendo que usava com êxito
comprovado na sua especialidade. No elixir anti-ascítico usava uma
planta da flora brasileira que de fato agia especificamente no caso de
ascite, tornando desnecessário as incômodas punções, que não
impediam a repetição das crises. Os esforços do Dr Luís Felipe
Freire de Aguiar, para que a industria farmacêutica nacional
florescesse não foram em vão, já nas primeiras duas décadas deste século
a cidade do Rio de Janeiro tinha 512 farmácias, 143 drogarias, 100
laboratórios e depósitos e 47 ervanárias.
Fonte: http://histoeplmed.2x.com.br/medicamento.htm,
http://histoeplmed.2x.com.br/primaindustria.HTM
http://www.terradeos.com.br/tom%20das%20ervas/farmacia.html
acesso em dezembro de 2002
Fonte: http://planeta.terra.com.br/educacao/inventabrasil/lfaguiar.htm