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Biografia de
Cynira Muniz Freire
Cynira Muniz Freire e José Bastos de Ávila, eram os pais de:
Fernando Bastos de Ávila S.J.
Fernando Bastos de Ávila S. J. nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 17
de março de 1918. É filho de José Bastos de Ávila e Cynira Muniz
Freire. Eleito em 14 de agosto de 1997 para a Cadeira nº 15, na sucessão
de Dom Marcos Babosa, foi recebido em 12 de novembro de 1997 pelo acadêmico
Alberto Venancio Filho.
Fez seu curso primário na Escola Sarmiento, da rede pública do então Distrito
Federal. Iniciou o curso secundário no Colégio Santo Inácio, do Rio de
Janeiro, e completou-o na chamada Escola Apostólica dos Padres Jesuítas na
cidade de Nova Friburgo, preparando-se para ingressar no noviciado da Companhia
de Jesus, na qual entrou em 1935. Ali mesmo iniciou sua formação jesuítica
regulamentada pela célebre Ratio Studiorum, fazendo os cursos de
humanidades, retórica e de filosofia escolástica.
No triênio de 1943-1945, foi incumbido de ministrar o curso de retórica - ars
dicendi -, com base nos grandes autores clássicos gregos e latino.
De 1946 a 1950, licenciou-se em teologia pela Universidade Gregoriana de Roma,
tendo, nesta cidade, recebido a ordenação sacerdotal, em 1948.
De 1950 a 1954, fez o doutorado em ciências políticas e sociais na
Universidade de Louvain, onde defendeu sua tese L'immigration au Brésil.
De volta ao Brasil, ainda em 1954, foi incorporado à Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro.
Em 1955, criou, na mesma Universidade, a Escola de Sociologia, Política e
Economia que inaugurou nas Escolas superiores do Rio de Janeiro, o regime de
créditos. O número de alunos da Escola nunca excedeu de muito o total de 150,
o que permitia um maior contato entre mestres e alunos. Muitos alunos e alunas
nela formados ocupam hoje posições de relevo no cenário cultural e
administrativo brasileiro. Nela, durante 16 anos, dedicou-se ao ensino de
Introdução às Ciências Sociais e de Doutrina Social da Igreja.
Foi nesta época que lançou a revista Síntese Política, Econômica e Social -
em acróstico SPES - cujos editoriais redigia, revista que, durante seus 10 anos
de vida, teve ampla penetração dentro e fora do âmbito universitário. Ela
continua a ser publicada como Síntese - Nova Fase, pelo Instituto Santo
Inácio de Belo Horizonte.
Em 1964, foi nomeado Vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de
Janeiro, quando se empenhou com Evaristo de Moraes Filho e Djacir Menezes, na
luta pelo reconhecimento da profissão de sociólogo, que veio a ser aprovado,
pelo Ministério da Educação e Cultura, em 1966.
Em 1968, foi nomeado pela Presidência da República para fazer parte do grupo
de trabalho que preparou o texto: Reforma Universitária - Expansão do
Ensino Superior.
No mesmo ano, foi nomeado primeiro Diretor do Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento - IBRADES - destinado a dar assessoria à Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil - CNBB -, na área dos problemas sociais, econômicos e
políticos, estando assim quase a completar seus 30 anos de existência. A
Igreja Católica no Brasil é conhecida pelo seu comprometimento com as
exigências da justiça social. Muitos fatores terão colaborado para esta
posição, mas, certamente, entre os mais importantes, foi a colaboração que
lhe foi prestada pelo IBRADES.
No novo cargo e em nova residência, teve a possibilidade de empreender uma
pesquisa sobre a participação do clero no Parlamento Brasileiro. O que o
motivou a dedicar-se a esta pesquisa foi a convicção de que a difícil
análise do problema das relações entre Igreja e Estado no Brasil só podia
superar as turbulências ideológicas e atingir o nível da seriedade acadêmica
sobre a base de um grande acervo factual e histórico. O trabalho só foi
possível graças à colaboração da Fundação Casa de Rui Barbosa, que lhe
permitiu o acesso fácil à inestimável coleção de 176 volumes dos Anais do
Parlamento Brasileiro. A pesquisa, que duraria 10 anos, estudou, em primeiro
lugar, a Câmara dos Deputados do Império, da qual participaram mais de 200
eclesiásticos entre bispos e sacerdotes, a partir da Assembléia Geral
Constituinte e Legislativa de 1823. Contou com a assessoria de dois imortais:
Américo Jacobina Lacombe e Francisco de Assis Barbosa que se incumbiu da
apresentação do trabalho, numa brilhante nota introdutória que denominou Síntese
Histórica. Para o estudo, foi também de grande ajuda o Centro de
Documentação e Informação da Câmara dos Deputados, da qual era Presidente,
então , o deputado Marco Maciel. Foi ele que determinou que os 5 volumes do
trabalho O Clero no Parlamento Brasileiro - Câmara dos Deputados,
fossem incorporados à série dos Documentos Parlamentares do Congresso
Nacional, 1978.
A pesquisa se dedicou, a seguir, ao estudo da participação do Clero no
Senado do Império, 1826-1889. O número de senadores eclesiásticos foi bem
menor do que o dos membros do clero na Câmara dos Deputados. Com efeito, a
senatoria, no Império, era vitalícia. Não chegou a 20 o total de
eclesiásticos senadores no Império. Da pesquisa, resultaram 2 volumes, com
apresentação do então Presidente do Senado, senador Jarbas Passarinho e com a
introdução preparada também por Francisco de Assis Barbosa.
Na seqüência da pesquisa, o autor passou do Império à República e publicou,
em 1985, o livro A Igreja e o Estado na Constituinte de 1891, com
apresentação do Presidente do Senado Federal, senador José Fragelli. O
aumento de encargos no magistério obrigou o autor a interromper a pesquisa, que
tinha como objetivo examinar a participação do clero nas diversas Assembléias
Constituintes da República.
Um outro tema que foi objeto do interesse intelectual e da preocupação do
autor pelos problemas humanos foi o problema das migrações. Quando publicou
seu primeiro trabalho sobre o tema, em 1954, mal faria idéia da gravidade que o
problema assumiria, inclusive na Europa, 40 anos depois.
O livro Economic Impacts of Immigration foi publicado em Haia, Holanda,
pelo Research Group for European Migration Problems, com prefácio de Julius
Isaac, uma autoridade internacional no assunto.
O tema das migrações foi objeto de sua tese de doutorado defendida na
Universidade de Louvain, Bélgica, e que seria publicada sob o título L'immigration
au Brésil - Contribution à une théorie générale de l'immigration,
publicada em 1956, pelo Institut International Catholique de Recherches
Socio-Ecclésiales, com sede em Genebra.
A organização dos Estados Americanos (OEA), preocupada com o problema
migratório, fez um concurso para a preparação de um estudo sobre o problema
na América Latina. O projeto apresentado pelo autor foi o escolhido pela OEA.
Assim, depois de contatar especialistas de 21 países latino-americanos, o autor
percorreu-os todos, recolhendo o material para o trabalho que, com a
colaboração do Intergovernmental Committe for European Migration, pôde ser
publicado pela Pan American Union, Washington, em 1964, com o título de Immigration
in Latin America.
O terceiro tema a cujo estudo se dedicou, em sua atividade acadêmica foi a
pesquisa sobre a formação e a difusão da doutrina social da Igreja. Teve a
oportunidade de consultar, para seu primeiro trabalho, a excelente biblioteca da
instituição Action Populaire dos Jesuítas de Paris. A pesquisa levou o autor
à convicção de que os graves problemas criados pela revolução industrial e
responsáveis pela chamada questão social tinham sido objeto das atenções da
Igreja bem antes de Karl Marx pretender solucioná-los pela luta de classes. A
pesquisa resultou no trabalho Pensamento social cristão antes de Marx,
publicado pela José Olympio Editora, em 1972.
Atendendo a uma solicitação da Conferência Episcopal Latino-americana, (CELAM),
trabalhou, em colaboração com Pe. Pierre Bigot S. J., na preparação de um
livro de difusão da doutrina social da Igreja e de sua propostas de solução,
dos problemas sócio-econômicos latino-americanos, eqüidistante do capitalismo
liberal e do comunismo marxista. Incumbiu da edição portuguesa publicada com o
título: Fé Cristã e Compromisso Social, Edições Paulinas, 1982, hoje
em sua 3ª edição.
Entretanto, já no início da década dos anos 60, as tensões ideológicas
provocavam grande agitação especialmente no meio da juventude universitária
com a qual trabalhava no Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro,
como também no meio empresarial, com o qual mantinha contato através da
Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE), que fundara no Rio de
Janeiro e que ainda hoje existe difundindo-se por vários estados da
Federação. Foi com a intenção de contribuir para a orientação
principalmente destas lideranças estudantis e empresariais que publicou os
estudos Neo-capitalismo, Socialismo, Solidarismo, AGIR Editora, 1963 e
Solidarismo que veio a lume pela mesma Editora em 1965.
A revolução de 1964 introduzira no currículo escolar o ensino da moral e
civismo. A Fundação Nacional de Material Escolar solicitou-lhe a elaboração
de um texto para a disciplina recém-introduzida. Em vez de preparar um texto
didático, sugeriu o lançamento de um livro de consulta, para os interessados
no assunto. Foi assim que, em 1967, saía a 1ª edição da Pequena
Enciclopédia de Moral e Civismo, cujo lançamento foi presidido pelo então
Ministro da Educação e Cultura, o deputado Tarso Dutra, numa tiragem de
100.000 exemplares. Um solícito General do Serviço Nacional de Informação (SNI),
de plantão no Ministério julgou encontrar no texto verbetes que considerava
subversivos. A surpreendente descoberta levou a Comissão Nacional de Moral e
Civismo a telegrafar a todas as suas agências, ordenando "a sobreestar a
divulgação da obra". A ordem foi entendida no sentido de acelerar a sua
divulgação. O resultado foi o rápido esgotamento da 1ª edição. Dissipadas
as suspeitas de subversão, foi publicada uma 2ª edição prefaciada pelo
então Ministro da Educação e Cultura, senador Jarbas Passarinho. A essa
edição, seguiu-se uma 3ª com várias reimpressões. A preparação do texto,
nas suas diversas edições, contou com a colaboração de vários especialistas
citados no texto e contatados pessoalmente pelo autor.
A obra foi uma das fontes utilizadas na elaboração conceitual de Pequena
Enciclopédia de Doutrina Social da Igreja, publicada pelas Edições Loyola
em 1991, em comemoração do centenário da primeira encíclica social, a Rerum
Novarum, do Papa Leão XIII. Uma 2ª edição foi publicada em 1993. a obra
apareceu também em edição castelhana, publicada em 1994 pela Editora San
Pablo, da Colômbia: Pequeña Enciclopedia de Doctrina social de la Iglesia.
Desde 1954, quando de volta de seus estudos na Europa, teve como principal
atividade o magistério, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
e no Instituto Brasileiro de Desenvolvimento. Dedicou-se ao ensino da Ética
Social na perspectiva da doutrina social da Igreja e da Sociologia. Foi para o
ensino desta matéria que publicou a Introdução à Sociologia, cuja 8ª
edição da AGIR Editora, apareceu em 1996.
Na sua atividade de ensino em nível de graduação e pós-graduação, pôde
colaborar na preparação de várias teses de mestrado e doutorado. Aposentou-se
em 1995, após 40 anos de exercício do magistério.
Ainda em 1978, a convite de S. Eminência o Sr. Cardeal Dom Eugênio de Araújo
Sales, organizou para a Arquidiocese do Rio de Janeiro, o Departamento de
Pastoral da Cultura, cujo objetivo é precisamente promover o diálogo ente a
Igreja e o mundo cultural, no âmbito da Arquidiocese. A principal iniciativa
para a realização desse objetivo, é a que promove os Encontros do Sumaré, de
líderes com poder decisório. Já foram promovidos mais de 40 destes.
Encontros, que não discriminam seus convidados por critérios confessionais ou
ideológicos. As propostas apresentadas pelos Grupos de Trabalho e aprovadas em
plenário são reunidas nos Cadernos de pastoral, enviados depois aos
participantes e às autoridades responsáveis pela eventual implementação das
soluções apresentadas.
Durante 21 anos foi assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, na
Linha chamada de Dimensão sócio-transformadora. Anualmente, nas Assembléias
Gerais da mesma Conferência, apresentava uma análise da realidade
sócio-política-econômica brasileira. Algumas destas exposições foram
publicadas pelas Edições Loyola, no livro Igreja e Estado no Brasil -
Perspectivas e Prospectivas, 1987.
Deu sua colaboração a vários estudos monográficos, sobre diversos temas,
entre outros: O divórcio para os não-católicos, AGIR Editora, 1958; Reflexão
cristã sobre o meio ambiente, Edições Loyola, 1992; Dr. Alceu e o
laicato hoje no Brasil, Editora Nova Fronteira, 1993; Sagrado e Profano,
AGIR Editora, 1993; Diálogos em Ciência e Religião, Fórum de Ciência
e Cultura da UFRJ, 1993.
Foi membro da Comissão incumbida pelo Ministério da Justiça e Negócios
Interiores da preparação do Anteprojeto de Código Penitenciário, sob a
Presidência do Prof. Oscar Penteado Stevenson, em substituição ao Prof.
Roberto Lira, ausente do Brasil. O Código foi elaborado e publicado em 1957.
É membro da mais antiga instituição cultural do Brasil, O Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro, onde foi recebido em 1995, pronunciando o
discurso Ética e Transcendência, crepúsculo ou aurora no final do
milênio?
Faz parte do Conselho Técnico da Confederação Nacional do Comércio, de cuja
revista, Carta Mensal, continua a se assíduo colaborador, tendo nela
publicado artigos que, pelo número e variedade dos temas tratados, constituem
talvez o maior acervo de sua produção literária.
É um dos Diretores do Instituto de Estudos Políticos e Sociais (IEPES), com
sede no Rio de Janeiro, tendo participado na elaboração do livro Brasil,
Reforma ou Caos, publicado pela Editora Paz e Terra, agora em sua 2ª
edição, 1989.
Foi membro da Comissão Provisória de Estudos Constitucionais nomeado pela
Presidência da República, nela trabalhando na preparação do Anteprojeto
Constitucional de 1986.
É colaborador de várias revistas de inspiração católica, editadas no Brasil
e no exterior, tais como: Síntese - Nova Fase, Belo Horizonte; Vozes,
Revista de Cultura da Editora Vozes - Petrópolis; Brotéria, Lisboa; La
Civiltà Cattolica, Roma; Aggiornamenti Sociali, Milão.
Participou do Fórum Nacional, promovido pelo Ministro João Paulo dos Reis
Velloso: A questão social no Brasil, 1991; Modernidade e Pobreza,
1994.
Em 1990, foi nomeado pelo Sumo Pontífice João Paulo II, membro da Comissão
Pontifícia de Justiça e Paz, com sede em Roma, e da qual é hoje um dos
relatores, reconduzido para o cargo em 1996.
Fonte: http://www.academia.org.br/cads/15/avila.htm