Ascendentes de José Ezequiel Freire de Lima

Info. Históricas

 

5. José Ezequiel Freire de Lima

JOSÉ EZEQUIEL FREIRE DE LIMA

1850 - Nasce no dia 10 de abril, na fazenda "Boa Vista", em Sant'Ana dos Tócos, município de Resende, Estado do Rio de Janeiro. Filho do Capitão Antônio Diogo Barbosa Lima e de D.Maria Chrispiniana Barbosa Freire, neto paterno de Diogo Barbosa Lima e de D.Ana Soares da Silva, neto materno do Comendador José Manoel Freire e de D.Maria da Silva Soares. O seu bisavô Manoel Freire de Campos, tronco da família Freire,de Resende, era natural de Piracicaba, SP.

1869 - Colabora no "Astro Resendense", de Resende, com poesias e crônicas, de 1869 a 1873.

1870 - Publica poesias no "O Mosquito", revista carioca, de 1870 a 1873.

1871 - Matricula-se na Escola Militar, no Rio de Janeiro,e, depois, na Escola Politécnica do Rio de Janeiro.

1874 - Publica as "Flores do Campo", livro de poesias.

1875 - Em 18 de maio, casa-se em São Paulo com D.Maria Adelaide de Araújo, filha do Dr.Luiz José Ferreira de Araújo e de D. Joaquina Angélica da Silva Araújo, neta paterna de Antônio José Ferreira de Araújo e de D.Francisca Rosa do Amor Divino, neta materna de José Manoel da Silva (Barão do Tietê) e D.Maria Reducinda da Cunha e Silva ( Baronesa do Tietê).

1876 - Matricula-se na Faculdade de Direito de São Paulo,formando-se em 1880.

1876 - Faz parte da redação da "Consciência", de São Paulo,jornal acadêmico, com Afonso Celso Junior, Alberto Fialho, Carlos Ferreira França, Fernando Cunha Filho e Magalhães Castro. O primeiro número é de 6 de abril de 1876. Faz parte da redação da "Tribuna Liberal", de São Paulo, folha política, literária e noticiosa, com o Dr. Bento Francisco de Paula Souza.O primeiro número foi publicado em 18 de abril de 1876.

1879 - É redator da "Gazeta do Povo", de São Paulo, fundada em 1879, na época em que este jornal pertenceu a Veiga Cabral.

1881 - Funda ", O Entr'Acto", em São Paulo, semanário redigido com Valentim Magalhães. Redator literário do "Correio Paulistano", de São Paulo, de 1881 a 1886. Manteve neste jornal a secção "De omnibus rebus";nele publicou muitos folhetins e reportagens

1884 - É nomeado Juiz Municipal em Araras, SP.

1885 - Redator e colaborador do "Diário Mercantil", de São Paulo,jornal fundado em 1884

1887 - Colabora assiduamente na "Província de São Paulo", hoje "O Estado de São Paulo", em 1887 e 1888, publicando contos, folhetins, crônicas, crítica literária e teatral. Correspondente da "Gazeta de Notícias", do Rio de Janeiro.

1888 - Lente de Retórica do "Curso Anexo", da Faculdade de Direito de São Paulo, nomeado por concurso.

Homem que brilhou nas artes e no desempenho de sua profissão, em 1890 - É nomeado por Rui Barbosa, Fiscal do Governo no Banco União,cargo que exerceu poucos meses.

1891 - Falece em Caçapava, Estado de São Paulo, em 14 novembro. O seu túmulo no cemitério de Caçapava, é muito visitado,pois é considerado milagroso.

1909 - Ezequiel Freire , é escolhido para Patrono da Cadeira : 20, da Academia Paulista de Letras, na ocasião de sua fundação.Também é patrono da Acade- mia Fluminense de Letras.

Ezequiel Freire


Ezequiel Freire, foi dos mais belos espíritos que o Brasil literário produziu, foi sem dúvida, o poeta das "Flores do Campo", que mereceu de Machado de Assis referências e elogios em artigo de crítica literária, que o inolvidável mestre publicou então sobre a nova gente que surgia no mundo das letras.

Ezequiel Freire, foi comparado pelo grande poeta da língua portuguesa, Ramalho Ortigão, a "Tourgueneff' e 'Tolstoi', pela intensidade do colorido e pela vibração do sentimento local recordados pelo trechos da obra desses escritores russos , sobre a vida rústica dos campos da Rússia no tempo czaristas.

Ezequiel Freire é patrono da cadeira número 20 da "Academia Paulista de Letras", desde a sua fundação em 1909.Também é patrono da Academia Fluminense de Letras.

Seu excepcional conto , "Pedro Gobá", foi considerado um clássico sobre o período abominável da escravatura em nosso país.

 

 

PEDRO GOBÁ

(Episódio da Vida Rural)

(Ao Grande Artista da Língua Portuguesa) (*)

Querido Mestre,

Felizmente para vós,grande alma de artista,e felizmente para nós brasileiros, vieste à nossa pátria,que vos honra e vos ama,já quase a findar-se a tragédia negra em que temos representado o vergonhoso papel de verdugo de uma raça bruta e mísera. Justo que sois,que confessastes a proveniência histórica desta herança de sangue e lama;e atribuindo à vossa pátria metade do crime, atenuastes de metade a responsabilidade da minha pátria.

Que os vossos olhos encontrem no seio desta Natureza americana belezas em que agradavelmente pousem para que não os atraia, magoando-vos a sensibilidade de artista e revoltando-vos a consciência do filósofo e do crítico, esta mancha da nossa pátria, o negro.

E quando tiverdes a fazer a conta da escravidão, lembrai-vos de que só uma herança maldita, tomando-nos no berço e influindo sobre nossa alma desde a infância por todas as sugestões da educação e do exemplo, pôde suplantar a generosidade inata deste povo através do qual ides passando entre alas de sorrisos afetuosos e de corações comovidos.

(*) O autor se refere a Ramalho Ortigão

Maio, nas fazendas , é um mês de azáfama. Colheram-se as roças; empaiolou-se o mantimento. Topetadas até as cumieiras, garantem as tulhas um ano de fartura. Malhou-se feijão; bateu-se o arroz; quebrou-se o milho; arrancaram-se as túberas de toda a casta.


Vêm chegando do mato-dentro as derradeiras carradas. Chiam desesperadamente os grandes carros circundados por alta esteira de taquara entrançada que boja com a pressão da carga. Pausadamente, entra pelo terreiro a longa fila de bois, cangados aos pares, parelhos no pêlo e no porte. Os da guia, retacos, dorso recurvo, pescoço alongado, focinho abeirando a terra, esticam as tiradeiras, vergando os canzis, ao esforço da tração. Corpulentos, possantes, pampas de amarelo e branco, cabeça ao ar, entrechocando as armações luzidias, marcham pesadamente os do couce, em passo processional e atitude de resistência, escorando,no cangote pelado pelo diuturno atrito da canga, o peso enorme da carrada. De pé sobre o cabeçalho, seguro por uma das mãos a um fueiro, com a outra, brande o carreiro alentado e retinto uma comprida aguilhada, em cuja extremidade chocalha entre argolas a roseta de de ferro, de puas mais temíveis ao couro bovino do que o ferrão da motuca.

Eia, Lavrado! Fasta, Barroso ! Carrega, Damasco! E, obediente ao comando, a dextra boiada contornea a linha das senzalas, marcando o lento passo ao monótono chiar do carro.

Por todo o largo terreiro uma grande alacridade barulha entre a criação doméstica, ao desabar da carga, à beira do paiol. Acodem avoando as aves : grasnam os palmípedes, gritam as galinholas, grugulam os perus; enquanto teimosamente grunhem a leitoada miúda, torvelinhante em derredor do monte,fariscando por entre o milho os tenros mogangos alaranjados tão doces ao dente do bácoro guloso.

De bodoque em punho um rio-branco traquinas,de cor de braúna, mantém o respeito entre a bicharia ruidosa, arredando a pelotadas certeiras os insofridos e os brigões.

Toda a fazenda ostenta um aspecto de abundância e fartura. O mantimento anda a rodo. Cavalos de estimação, pêlo luzidio, garupa redonda, relincham impacientes no cercado. Nédia e forte aguarda a boiada o rude labor dos meses da colheita.

Tudo está pronto para o início da safra. Os cafezais prometem. O ano passado fora de falha; neste a carga é de vergar.

De ponta a ponta do terreiro, indo e vindo, abstraidamente, o fazendeiro calcula : - "20 contos, pelo menos, líquidos, sejam para reformar a minha gente, 12 peças de lei, molecotes de 15 a 25 anos, na flor da idade, cerne puro. Mais duas safras desta, e mando ao diabo a hipoteca e o Banco".

Entrementes, na alpendrada das senzalas, a um canto, os taqua- reiros se ativam; e ao longo dos balaústres, em rumas simétricas, se alinham as sururucas, os balaios de alqueires, as peneiras rasas de abanar.

No cafezal :

Está limpa e ciscada a terra para receber as bagas que transbordarem das peneiras com a pressurosa apanhação... porque em principio de colheita a tarefa é alta e o Maurício feitor aperta o serviço, a estralos de relho sobre o lombo nu da negrada, que escorre em suor , encrostado de poeira, alternadamente mordido, - de manhã, pelo frio orvalho que esborrifa das árvores, - alto dia pela soalheira que mordica a pele como a dentada cáustica da formiga-monjolo. Os cafeeiros, vermelhos de frutos, deixam vergarem-se os galhos flexíveis. É uma carga enorme!

Desta vez tiro o pé do lodo", continua meditando o fazendeiro, indo e vindo, abstraído, inteiramente alheio àquela grande alacridade que em derredor barulha por todo o vasto terreiro entre a criação doméstica...

* * *

Domingo, ao entardecer, o sino da fazenda tocou à forma geral. Vieram depressa os moços, trotando; depois as negras, com as crias novas ao colo, arrastando pela mão um ou dois ingênuos seminus e magritos; por último, com trôpego passo, os sexagenários, alquebrados veteranos do eito, perrengada inválida e inútil.

- Salva ! manda o feitor.

- Vaássunscristo! bradam 50 míseros negros, num clamor uníssono, vibrante e merencórico, como uma imprecação à surda justiça de Deus, tantas vezes neste triste ermo bradada, sem que ninguém a exalce; nem tu, duro egoísmo do senhor de escravos; nem tu,meigo coração de esposa; nem vós, inconscientes e insensíveis ainda crianças que ides crescendo no espetáculo e nos exemplos desta dolorosa infâmia, que veio de vossos pais e que haveis de legar a vossos filhos!... Ninguém, ninguém te exalça, melancólico brado de angústia; e tu não irás mais alto nem mais longe do que vão o mugido dos bois e o ladrar dos cães; e te perderás, voz animal que tu és, entre as outra vozes da animalidade que te rodeia, no ar morto e sem ecos da Fazenda!

- Vaássunscristo !...

Em seguida, faz-se a distribuição anual da roupa : dois parelhos de algodão, japona de baeta, coberta de lã grosseira; porque o dono desta Fazenda é generoso ... outro fora, e dar-te-ia, pobre pária, para cobrir-te a nudez lutulenta - de manhã, o frio nevoeiro cortante dos eitos - alto dia, o sol que te mordiça a pele como a penugem cáustica da urtiga.

No dia seguinte tinha de dar-se princípio à colheta. Para que a solenidade fosse completa distribuiu-se pelos negros aguardente e fumo, indo o Maurício com a canequinha de lata, ao longo da fila, dando a cada qual um gole, que o negro sorvia com a beatitude de um padre emborcando o cálice consagrado.

- "Agora, disse o Fazendeiro, indicando com o cabo do relho a melhor peça da fila : amanhã começa a apanhação; Gobá é o tarefeiro . No cafezal novo a tarefa , 10 alqueires. Cada alqueire que passar dos dez, - duzentos réis; cada alqueire que faltar, - uma dúzia de couro. Ouviram ?"

- "Si siô ! responde o eito num só grito com o automatismo dos entes em cujas almas a diuturnidade da escravidão sob o regime cru das senzalas obliterou a pouco e pouco, e de todo, o sentimento da personalidade.

Vergonhosamente, nesta pátria aviltada, a promiscuidade é a lei capital que regula as relações do amor entre a escravatura. Raro fazendeiro - ainda hoje ! - permite o casamento religioso aos seus negros. Como em certas hipóteses o moderno direto pátrio concede vantagens manumissórias aos cônjuges escravos, o fazendeiro, receioso dos efeitos, obsta à aparição da causa impedindo o sacramento, que - demais - ele considera como um luxo de dignidade supérfluo para a honra do preto. Todavia, pois que é conveniente no próprio interesse da disciplina das senzalas, aparentar alguma moralidade, os nossos grandes proprietários rurais, alguns deles portadores de títulos de nobreza consentem (quando pessoalmente não promovem) o concubinato entre a escravatura.

Alguns levam a solicitude ao excesso de eles próprios designarem os nubentes e sacramentarem o conúbio, com a tranquila consciência de quem exerce dentro do seu latifúndio uma legítima função senhorial; outros deixam aos próprios interessados os cuidados da eleição.

Estes curiosos casamentos, nota simultaneamente cômica e torpe dos nossos costumes agrícolas, dão-se com a maior frequência na época da colheita do café ; e são , principalmente com referência às mulheres, determinados mais por um cálculo interesseiro do trabalho do que pelo intuito genésico ou pelos impulsos naturais da simpatia. O que importa para interesse da Fazenda é "aparelhar-se a gente", formando de um negro diligente e dextro com uma crioula morosa e inábil - uma entidade mixta, espécie de trabalhador andrógino cujos constituintes perfeitamente se equilibrem para o exercício desta suprema função agrícola - dar a tarefa marcada.

Fazendeiros há, de tanta sagacidade no arranjo destas delicadas equações da aritimética rural, que , possuindo no eito, entre peças de lei (do preço de 2 a 3 contos) e velhos perrengues ( herdados da fazenda paterna) apanhadores que tiram por dia até 16 alqueires nos cafezais carregados, quando outros nem à força de relho chegam a atingir 3 ou 4 balaios; - entretanto, por meio da referida organização conjugal sabiamente exploradas, conseguem obter o equilíbrio do eito, do que resultam inapreciáveis vantagens.

Bem hajas, prole maldita de Cham , que nos libertas , a nós que no cimo do Ararat soubemos pela sizudez dos nossos avós bíblicos conter o riso ante a descompostura vínica do papai Noé; bem hajas, prole bendita , que amassa o nosso pão com o suor do rosto.


***

Tecla é a mulata mais bonita da fazenda. Sob os seus precoces treze anos borbulha o ardente sangue mestiço, inflando-lhes as veias que serpenteiam túmidas debaixo da pele acobreada,pubescente,de tons quentes como os do gerivá, verdoengo. - "Flor de cafeeiro", deve ser colhida pelo melhor apanhador de todo o eito. Pedro Gobá, de Olinda, veio num comboio escolhido a dedo, de gente de primeira ordem. Moço atlético, retinto, forte e dócil, é a melhor peça dentre toda a escravatura. Para tocar uma enchada, cantando uma cantilena triste, morro acima, num eito de mato bravo, ninguém como ele! No manejo da foice, à roçada de um guaixumal de pasto velho, nem o Peroba o acompanha: e , entretanto era Peroba o melhor crioulo da redondeza, antes de aparecer o Gobá.

Naquele dia inicial da colheita, Tecla - a flor do cafeeiro, bonita e indolente na exuberante precocidade dos seus treze anos, foi esco- lhida por Gobá, o tarefeiro , rei da negrada.

Casou-os o Balbino, velho africano feiticeiro e manhoso, puxador do Terço, que exercia na fazenda um arremedo de funções as cerdotais.

Era ele quem paramentado com uma sobrepeliz por cima de uma batina de seda - feita de um dominó carnavalesco que lhe dera o senhor moço estudante em São Paulo - casava os parceiros, todos os anos , em véspera da colheita, no oratório da Fazenda, perante um Cristo envergonhado da sua impotência para aliviar a miséria da raça negra maldita, condenada pelo Padre Eterno da legenda bíblica a eternamente trabalhar em benefício nosso, dos que temos pais fazendeiros e contamos por avós históricos - Sem e Jafet.

Tecla, confiada no esforço dedicado do marido, acompanhava-o entre os arruados dos cafeeiros, toda atenta a resguardar dos galhos secos o seu vestido de chita, por que se não rasgasse; e esquecida da tarefa, ia cantarolando, eito acima, a mesma toada triste da cantiga do marido.

Gobá excedia-se de diligência para colher a tarefa sua e da mulher.

Ao largar o serviço à noitinha, contou as chapas que o feitor lhe dera a cada balaio de café levado ao monte: eram 15 . Depois contou as da Tecla: eram 3. Faltavam duas para inteirar a tarefa da companheira : e o senhor bem lhes havia avisado.

O que faltar para 10 , uma dúzia de relho por alqueire ! ..."

À noite, na forma, recebiam-se as chapas da tarefa. Dois moleques, nas extremidades da fila , suspendiam ao ar tachos de taquara seca em labaredas.

A negrura daquela mísera gente, ao clarão do fogo, mais negra ainda se tornava . Cabisbaixos, mudos, iam entregando os discosinhos de Flandres, à proporção que o Maurício os tomava , passando-os depois, para verificação, ao feitor do terreiro.

Sob o alpendre da casa, a família dos brancos assistia curiosa a contagem. João Cassange , 10; Pedro Creoulo, 12; Nazário, 11; Tecla, 8. E o Maurício , feitor prático, tomando o seu grande relho de couro trançado, intimou : Tecla fora de forma.

Era o primeiro castigo por falta de tarefa, crime imperdoável na alta justiça dos fazendeiros. Tremendo, a mulata , "flor de cafeeiro", mimosa no abrolhar dos seus treze anos, saiu para a frente da fila, quedou-se imóvel, erguendo os braços para que o relho vibrado a dois pulsos pudesse enlaçar-lhe num cíngulo de dor o torso flexível e esbelto de mestiça nova.

Mas antes que a primeira relhada caisse sobre a carne trêmula daquela criança apenas revestida no busto pelo fino morim da sua camisa de noivado, Pedro Gobá interpõe-se , e se ajoelha.

- Sinhô ! murmura comovido , com as mãos postas em súplica, voltado para a família dos brancos o rosto sempre risonho, agora crispado pelas contrações da angústia. Sinhô ! repete mais trêmulo ainda.

- Que é lá, negro ? brada o fazendeiro irado ante aquele ato de indisciplina.

- Sinhô , eu quero apanhar por minha mulher !

- Ah ! negro você conta histórias !...

***

Mas antes que ninguém tivesse tempo de mover-se, dominados todos pela surpresa daquela cena, Gobá, o Pernambucano de raça, altivo e nobre no íntimo da sua alma admirável, debalde abafada desde o berço pela dominação dos senhores; Gobá, a flor da escravatura, manso e bom, subitamente transformado em homem pelo irresistível impulso da nobreza inata, arranca da faca e crava-a no coração da mulher.

Depois, enquanto ela tomba inanimada, ele , placidamente, fitando com um ar de asco a família atônita dos brancos , placidamente crava a faca ainda rubra e quente no seu próprio coração.

São Paulo, 7 / 10 / 1887

 

 

Matéria por : José Eduardo de Oliveira Bruno - Membro efetivo da Associação Brasileira dos Pesquisadores de História e Genealogia

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By Consuelo Maria Freire Guimarães