O "INTERPANNEAU" DE 30 RÉIS OLHO DE
BOI
A história das mais importantes
peças da Filatelia Brasileira
Descrição:
30 réis Olho de Boi. Dois pares
verticais ajuntados (originalmente
um Bloco de 4 selos), Chapa 3 de 54
selos do 30 réis, Estado A, posições
15 e 16 do painel superior e
posições 3 e 4 do painel
intermediário. Obliterado com
carimbo "Correio Geral da Corte -
26.??.1845". Peça que comprovou a
existência da Chapa Múltipla, de 3
(três) painéis de 18 selos cada, do
valor de 30 réis Olho de Boi.
Imperfeições de pequenas
conseqüências, selo inferior
esquerdo tocado na linha inferior do
quadro, margem lateral direita curta
e as demais boas. Dobra vertical no
par direito.
UMA DAS MAIS IMPORTANTES E
VALORIZADAS PEÇAS DA FILATELIA
BRASILEIRA. ÚNICA.
Procedência: ex. Figueiredo Filho,
Vianna, Pracchia, Lima.
A HISTÓRIA
Primeiro Período - 1950 a 1974
Hugo Fraccaroli, em artigo
específico sobre essa raridade,
publicado no Brasil Filatélico nºs
167/168, do ano de 1974, conta que a
peça foi descoberta pelo conhecido
filatelista Luiz Figueiredo Filho,
residente em São Vicente, cidade
perto de Santos, no ano de 1950,
"quando estava examinando um
conjunto de selos do Brasil,
encontrou um par vertical do Olho de
Boi de 30 réis. Continuando a
verificação, encontrou mais adiante
outro par igual ao primeiro e logo
desconfiou que tinha sido cortado do
outro. Comprou os dois pares,
juntou-os e verificou que sua
suspeita era verdadeira. Tratava-se
de uma quadra que, por qualquer
motivo, tinha sido cortada em dois
pares verticais".
Continua ele: "Esta peça, na
ocasião, foi adquirida pelo famoso
filatelista Niso Vianna e, no
momento, se encontra em poder da sua
viúva".
O Sr. Niso Vianna (falecido em
1971), em suas reminiscências,
publicadas no Brasil Filatélico, nºs
141/142, do ano de 1964, conta a
história ligeiramente diferente,
dando a informação onde o Luiz
Figueiredo comprara a peça, senão
vejamos: "De todas as minhas
compras, a que reputo mais
interessante e valiosa foi feita por
intermédio do Figueiredo Filho, que
adquiriu na casa filatélica Coda (O
grifo é do autor), Rio de Janeiro.
Foi uma quadra do Olho de Boi do 30
réis, mostrando um espaço de 10
milímetros entre os selos, o que
veio a comprovar a existência de uma
chapa que não era conhecida por
Napier, isto é, uma chapa igual a
primeira com selos dos três valores,
entretanto, com selos de um valor
só, o de 30 réis; não se conhece até
hoje peça igual. Paguei por ela Cr$
1.500,00 (mil e quinhentos
cruzeiros)". Este valor representava
US$ 250,00 (duzentos e cinqüenta
dólares) ao câmbio da época.
Niso Vianna, na época em que não
existia a medalha de ouro grande,
participou de muitas exposições
internacionais e obteve várias
Medalhas de Ouro: EXFIRA'50, em
Buenos Aires; LISBOA'53, em
Portugal; FIPEX'56, em Nova York,
EFIMAYO'60, em Buenos Aires, onde
obteve também o Grande Prêmio da
exposição.
Segundo Período - 1974 a 1985
Na LUBRAPEX'74, realizada em São
Paulo, a peça foi mostrada, pela
primeira vez, na coleção do Sr.
Reinaldo Bruno Pracchia.
Com o objetivo de apurar como essa
raridade fora parar na coleção do
Sr. Pracchia, decidi recorrer à
memória do ainda comerciante
filatélico de São Paulo, Rolf Harald
Meyer, legenda viva da história
filatélica do Brasil, a partir dos
anos quarenta.
Fiz-lhe uma ligação telefônica, em
março de 2002, buscando esclarecer
esse fato obscuro da venda efetuada
pela viúva do Sr. Niso Vianna. A
iniciativa foi coroada de êxito e
muito gentilmente o Sr. Meyer
contou: "que a viúva encarregara o
Sr. Itamar Bopp (outro
importante colecionador paulista, já
falecido) de vender as coleções de
Olhos de Boi e D. Pedro que fizeram,
por muitos anos, a alegria da vida
do Sr. Vianna".
Continuou o Sr. Meyer: "O Bopp
vendeu pouco tempo antes da LUBRAPEX'74
a coleção inteira dos Olhos de Boi
do Sr. Vianna para o Sr. Pracchia
por dois milhões de cruzeiros e
guardou para si a de D. Pedro". O
valor este equivalente à época a US$
290.000,00 (duzentos e noventa mil
dólares). Comentários da época dão
conta que a viúva do Sr. Niso Vianna
não ficou muito satisfeita com a
jogada comercial do Sr. Itamar
Bopp.
O Sr. Pracchia obteve os mais
importante prêmios da filatelia
brasileira até aquela data. No
circuito internacional ganhou as
três Medalhas de Ouro Grande que lhe
deram direito a passar a expor na
Classe de Campeões FIP, entre elas:
ESPAÑA'75 em Madrid, ARPHILA'75 em
Paris. No ano de 1980 alcançou o
prêmio maior, "Grande Prêmio da
Classe do Campeões" na LONDON'80.
Em 1986, o Sr. Pracchia vendeu sua
coleção completa dos "Numerais do
Império" para a casa de leilões
internacionais de selos "Habsburg,
Feldman S/A", sediada na Suíça pela
soma de US$ 550.000,00 (quinhentos e
cinqüenta mil dólares) pagamento
este efetuado à vista. No conjunto
estavam incluídos os "Pares
Interpanneau".
Terceiro Período - 1986 a 1994
O leilão da "Coleção Amazonas",
assim titulada por David Feldman,
realizou-se em Zurich, entre os dias
16 e 21 de novembro de 1987. Foi
produzido um catálogo exclusivo para
esta coleção e o "Interpanneau" foi
capa do catálogo e listado como o
lote número 60.009. Em parte da
descrição constava: "Estes dois
pares de 30 réis são também os
únicos existentes. A peça máxima
desta coleção e crível como a mais
valiosa da filatelia brasileira". A
estimativa de valor era de
"SFr200.000,00" (duzentos mil
francos suíços).
Compareci, pessoalmente, a este
leilão para tentar comprar peças
para minha coleção e recebi a
incumbência do amigo Ângelo Lima,
que muito me honrou, para comprar
várias peças para sua coleção de
numerais do Império.
A seleção de peças por ele fornecida
representava a nata da Coleção
Amazonas. Cumpri a tarefa com
galhardia, pois tudo que o Sr. Lima
desejava comprar consegui com lances
vencedores em seu nome. Posso citar:
"o bloco de 6 (3x2), usado, do 180
réis Inclinado" e o "Painel
completo, usado, de 18 (6x3) selos
do Olho de Boi de 90 réis, carimbo
Correio Geral da Corte", dentre
outras peças.
Entretanto, a tarefa mais importante
foi adquirir, após uma batalha de
lances sucessivos, o "Interpanneau"
pelo lance maior de SFr220.000,00
(duzentos e vinte mil francos
suíços), equivalentes, à época,
aproximadamente ao valor de US$
100.000,00 (cem mil dólares).
O Sr. Ângelo Lima, português de
nascimento e brasileiro naturalizado
por opção, industrial no Estado de
São Paulo, tornou-se o maior
expositor brasileiro de todos os
tempos com sua coleção "Brasil
Império 1843-1866" e o maior campeão
nacional, obtendo os dois maiores
galardões expondo internacionalmente
pelo Brasil, quais sejam: Grande
Prêmio Internacional e Medalha de
Ouro Grande na PHILEXFRANCE'89 e o
Grande Prêmio da Classe dos Campeões
na PHILANIPPON'91. Além de duas
Medalhas de Ouro Grande em anos
anteriores a 1989.
Quarto Período - 1995 em diante
Depois ter obtido os maiores prêmios
internacionais, o Sr. Lima, em 1993,
decidiu vender sua coleção e após um
acerto comercial entregou a coleção
à casa de leilões "David Feldman
S/A, sediada em Genebra, Suíça. O
acordo inicial previa a venda por
leilão público, o que posteriormente
terminou em venda fechada, recebendo
o Sr. Lima a impressionante soma de
mais de dois milhões de dólares por
todo o seu acervo de selos das
primeiras emissões do Brasil,
incluindo os D. Pedros.
David Feldman promoveu, entre 1 e 6
de novembro de 1993, um leilão com
um volume expressivo das peças da
Coleção Lima, entretanto, das peças
importantes apenas o "Pack Strip"
foi apresentado, ou seja: ali não
estavam a "Carta de Belo Horizonte"
e nem o "Interpanneau".
No inverno europeu de 1995, no mês
de janeiro ou fevereiro, estava o
Sr. Hugo Goeggel, suíço de
nascimento, importante industrial
colombiano, radicado em Santa Fé de
Bogotá, passando férias em uma
estação de esqui, na Suíça, quando
recebeu uma ligação telefônica do
Sr. Feldman oferecendo várias peças
da coleção do Sr. Lima e entre elas
o famoso bloco "Interpanneau". O
negócio foi fechado por telefone e a
cifra alcançou o valor de US$
550.000,00 (quinhentos e cinqüenta
mil dólares) para todo o lote. O "Interpanneau"
foi vendido pelo preço de US$
200.000,00 (duzentos mil dólares).
A partir desta data o "Interpanneau"
passou a pertencer à espetacular
coleção de Olhos de Boi do Sr. Hugo
Goeggel. Além da coleção do Brasil,
O Sr. Goeggel possui as melhores
coleções, até hoje montadas, das
primeiras emissões da Colômbia e do
Equador, sendo, atualmente,
considerado o maior colecionador de
todos os tempos da Colômbia e o
maior colecionador da atualidade da
América do Sul. Detentor de várias
medalhas de Ouro Grande com todas
elas.
Com a coleção da "Primeira Emissão
do Brasil" já obteve três Medalhas
de Ouro Grande, sendo uma na
"BRASILIANA'93", sem o "Interpanneau",
e mais duas, já com presença da
famosa raridade: uma na PACIFIC'97 e
outra MOSCOW'97.
* Paulo Comelli, FRPSL, MCBF, APF,
APS, CCNY, CNP/ Setembro 2002
Fellow da Royal Philatelic Society
London, Presidente da
Câmara Brasileira de Filatelia,
Membro da Academia
Portuguesa de Filatelia, sócio da
American Philatelic
Society, Collectors Club de Nova
York, Clube Nacional do
Porto - Portugal e Jurado
Internacional da FIP. |